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Travis Morrison
Prostituto Musical


Ainda que quase totalmente desconhecidos do pĂșblico portuguĂȘs, os Dismemberment Plan foram uma das mais importantes bandas do panorama indie rock americano da segunda metade dos anos 90. Quando acabaram, no ano passado, deixaram um vĂĄcuo na cena musical que dificilmente voltarĂĄ a ser preenchido. Travis Morrison, o vocalista, Ă© um talentoso escritor de cançÔes que se tem entretido nos Ășltimos tempos a escrever temas a solo, gravando-os e disponibilizando-os no seu site oficial (http://www.travismorrison.com/). O termo "prostituto musical" assenta-lhe que nem uma luva, sendo ele um tipo que ouve de tudo, de tudo mesmo, desde o que se passa no underground atĂ© Ă quilo que se faz no mainstream, contrariando as tendĂȘncias da maior parte dos seus pares. Era, aliĂĄs, nesta mescla de diferentes influĂȘncias (do punk, do hip-hop, do indie rock, da pop, do r'n'b, etc.) que se encontrava um dos maiores trunfos dos Dismemberment Plan, estando tudo isto documentado em discos como Emergency & I ou Change, mas tambĂ©m nas gravaçÔes a solo de Morrison. A mĂșsica robotizada, o projecto de remisturas, o hip-hop, a cena de Washington, George W. Bush e atĂ© Portugal sĂŁo pretextos para uma conversa com um dos mais importantes membros da cena musical independente norte-americana.

O que é que tens andado a fazer? Tens andado a escrever canções, a gravá-las e a pô-las no teu site. Elas soam como as tuas antigas canções nos Dismemberment Plan, mas com uma nova perspectiva, mais electrónica, mais samples, talvez mais pessoais, e sem dúvida canções a solo. Gravaste-as sozinho? Vem aí um álbum?

Sim, acho que isso pode ser feito. Eu tenho andado a pôr isso de lado para ouvir com mais atenção. Não as gravei sozinho; a maior parte delas foram gravadas com o Chris Walla dos Death Cab For Cutie. Depois gravei mais coisas sozinho, e aí acabei tudo cá em [Washington] D.C. nos estúdios Inner Ear. Tem sido uma verdadeira viagem!

Algumas das tuas canções novas soam como se tivessem sido gravadas com software como o Fruity Loops, ou algo parecido. Penso que li em algum lado que, nos últimos anos dos Plan, vocês começaram a substituir os vossos samplers por computadores. Estás a tentar explorar as possibilidades de software de música?

Não, não mesmo. Francamente, tudo isso é feito ao vivo. Eu estou realmente a tocar em botões durante três minutos. Não gosto do som dos loops. Eu quero ouvir alguém a TOCAR. Podes tocar um computador, se tiveres o toque e o ouvido para isso. Não suporto ouvir o mesmo beat vezes sem conta - cansa-me. Os Plan nunca fizeram loops de coisas - bem, uma coisa, uma vez: a batida do "You Are Invited". O resto era accionado pelas nossas mãos em tempo real.
Gosto de ouvir humanos e tecnologia a interagir e comunicar. Não gosto de música automática.

Desculpa, elas soam certamente menos ao vivo do que as canções dos Plan... mas são canções mesmo muito boas. O "You Are Invited" tem um óptimo beat. Mas vocês também lidaram com samples em canções como, oh...hmm..."Spider in the Snow", "The Dismemberment Plan Gets Rich"... não consigo agora pensar em mais canções vossas com samples. Não estava bem a falar sobre beats, estava a falar mais sobre samples.

Sim, claro, os samples eram usados em todo o lado. Quero dizer, todos eram realmente samples, mesmo que fossem samples de teclados ou instrumentos tonais mais tradicionais. Mas nós estávamos mesmo sentados lá como macacos, a tocar nas teclas para accionar os samples. Não tínhamos nem a paciência nem a motivação para dominar a sequenciação.
As coisas novas soam realmente menos como uma banda e mais como um álbum. Estás correcto aí. O ambiente soa mais montado, menos como algo que acabou de acontecer. Não penso que uma coisa seja melhor que a outra, sendo um fã dos Stooges e dos Steely Dan, mas prevejo que irá afastar algumas pessoas e excitar outras. Mas tenho andado sempre a ganhar e a perder fãs por esta ou aquela razão, agora já estou habituado a isso.

2.2 E o projecto de remisturas? Eu gostei mais ou menos daquilo. Huh...penso que havia duas óptimas remisturas, verdadeiras obras-primas: a do "What do you want me to say?" por Drop Dynasty e "Pay For the Piano" por Grandmaster Incongrous (misturar os Plan com o Elvis Costello foi de génio). Eram brilhantes, penso que alguns dos outros eram bons, mas houve uns que não me convenceram. Gostaste de fazer aquilo? Foi uma boa experiência teres os teus fãs a remisturarem a tua música?

Há MUITAS mais. Tentei encorajar alguns sites de fãs a tê-las mas elas desaparecem depois de algum tempo.
Mas digo-te, eu acho que a coisa das remisturas é incrível. O problema que encontrou foi que as pessoas esperavam que fosse "dançável" e muitas delas são completamente não-dançáveis. A minha preferida é a remistura do "Superpowers", porque soa a John Denver, não soa nada a discoteca. Mas as pessoas têm uma ideia já muito feita daquilo a que um álbum de remisturas duma banda de rock em 2004 deve soar (como os D.F.A., basicamente) e o nosso não soava a isso.
Além do mais, nós não conseguimos realmente convencer o mundo, pois acabámos. Teve uma vida difícil como um último lançamento porque não estávamos lá para defendê-lo e discuti-lo, o que nós sempre tínhamos tido de fazer porque éramos tão peculiares.
Mas ainda acredito apaixonadamente nesse lançamento e penso que, eventualmente, as remisturas passarão a ser menos uma coisa de "dança" e mais uma maneira comum das canções evoluírem e entrar e sair dos ouvidos do público. O nosso CD de remisturas fará muito mais sentido aí.

O último disco dos Plan, Change, era menos virado para a dança do que os anteriores, com um som mais "maduro". Estavam a tentar abrir (ainda mais) novos caminhos?

Bem, nós sempre ficámos impressionados com como toda a gente vê a nossa música como ou "dança" ou "rock". Quero dizer, há muito rock'n'roll que realmente me põe a mexer. Nós só queríamos escrever boas canções e apresentá-las da melhor maneira que conseguíamos, e os nossos gostos levaram-nos a tentar dar às canções algum groove e progressão, mas nunca foi uma noção de "agora é dança!" e depois "agora não é dança!"

Talvez não devesse ter posto as coisas assim. O "Change" era realmente menos dançável, não menos virado para a dança. Pessoalmente, gosto mesmo desse disco.
És tão ecléctico nos teus gostos musicais... Ouves de tudo, talvez como uma prostituta musical... sem ofensa, a sério. És como um historiador musical que por acaso é um talentoso escritor de canções. Quero dizer, dos Plan às canções disponíveis no teu site de graça, pode-se sempre encontrar milhões de influências, mas as canções são instantaneamente reconhecíveis como tuas. Estás sempre à procura de nova música, novas influências e a ouvir coisas velhas?


Yep. Nunca acaba. Tanta música, tão pouco tempo. Agora estou a procurar realmente bandas sonoras clássicas, como o Bernard Hermann, música clássica dos princípios do século XX, e punk clássico que perdi na altura. Acreditas que nunca ouvi Black Flag até à semana passada? É TÃO BOM! Mas toda a gente tem estas lacunas no seu conhecimento, e adoro ir atrás delas.

Alguma vez estiveste metido no metal? E o que é que pensas de toda a cena do black metal norueguês? Rock progressivo? Rock psicadélico? A tua música não soa como se alguma vez tivesses sido fã destes estilos.

Bem, sou um tipo de canções, não de estilos. Eu apenas tento conhecer superficialmente este ou aquele mundo. Nunca tive a paciência para ligar realmente a minha identidade a uma subcultura. Já ouvi algum metal norueguês muito bem, mas eu não sou do tipo de comprar todos os discos de metal norueguês de sempre - apenas arranjo os discos clássicos. A mesma coisa se passa com o rock progressivo, com o acid rock. Eu gosto muito de Botch e de Converge, e quanto ao rock progressivo... gosto de algumas canções dos Yes, e há muitas coisas dos Genesis de que gosto. A minha parte favorita de um disco é o cantor, a voz, e muito rock progressivo tinha prestações vocais horríveis, mas o Peter Gabriel é um mestre. Também, estranhamente, eu gosto muito dos discos dos Pink Floyd após o Syd Barrett ter-se passado. São muito, muito estranhos, porque os gajos claramente não tinham ideia do que haviam de fazer, mas ainda conseguiram fazer três discos antes de arranjarem maneira de ser uma banda outra vez.

Tu gostas obviamente muito de hip-hop. Quais são os teus discos e artistas de hip-hop recente favoritos? Pensas que o híbrido produtor/MC de hip-hop é o cantor/escritor de canções do século XXI?

O meu amor pelo hip-hop é profundo - fez por mim aquilo que muita gente diz que o punk fez por eles. Eu adoro letras e o rap trouxe as letras de volta. Eu podia passar o dia todo a listar artistas favoritos, mas tenho de salientar o LL Cool J, os [A] Tribe [Called Quest], os Public Enemy, o Notorious BIG, o Eminem, os Outkast, os Gang Starr, os De La Soul, o Nas, o Mos Def e o Jay-Z.
Quanto ao híbrido produtor/MC - é um pensamento justo. É a situação moderna em que alguém pode fazer a sua arte acontecer de forma barata e rápida.

E quanto à fusão da cena do hip-hop underground e da cena do hip-hop comercial? No "The College Dropout", o Kanye West tem convidados como o Mos Def, o Talib Kweli ou o Common, mas ele é uma estrela de rap, com singles em número um e tal. O Jay-Z também fez rimas acerca do Common e do Talib Kweli no último álbum de despedida dele. Não achas que nos últimos anos o underground começou a abraçar mais e mais o que anda a sair no mainstream?

Bem, sabes, o Mos Def, o Talib Kweli e o Common não são realmente underground. Eles têm tempo de antena na rádio ocasionalmente cá na América e venderam muitos discos pelos padrões de toda a gente menos da Céline Dion. Eles estão naquela camada esquisita que é demasiado grande para o underground mas também não é realmente pop (onde MUITOS dos meus artistas favoritos encontraram o seu lugar, devo dizer...).
No entanto, acho que estás completamente certo quando dizes que alguns "artistas" começaram a virar-se para a música pop para mais inspiração. É engraçado lembrar-me de quando eu andava no liceu e o ódio que sentias automaticamente por tudo o que tivesse sucesso ou fosse pop. Simplesmente não podia ser interessante ou valer a pena se fizesse dinheiro. Era uma atitude muito estúpida, mas era prevalente. Eu penso que isto acontecia por causa do ressentimento que as pessoas tinham em relação ao controlo apertado que as grandes corporações e a rádio tinham sobre o que nós ouvíamos. Não havia internet nem sistemas de partilha de ficheiros, por isso tinhas mesmo de te esforçar para ouvir coisas do underground e desprezavas a rádio.
Hoje em dia, as coisas estão tão disponíveis através de novas tecnologias que o olho similar ao de Sauron da cultura pop não é tão ameaçador ou escravizante. Pop é algo que tu podes procurar e ouvir como qualquer outro estilo e depois deixar quando te sentes aborrecido. Como resultado, as pessoas não se sentem tão esquisitas quanto a retirar ideias daí.

Com todo este frenesim do dance-punk/funk-punk, muita gente começou a dizer que os Plan eram a banda que tinha começado isto tudo, com bandas como os !!!, os Rapture, os Radio 4, para dizer alguns, embora vocês não soassem muito como os Gang of Four. O que é que pensas disso?

Bem, é totalmente errado! Nós nunca soámos como os Gang of Four. Honestamente, eu penso que nós éramos como uns Blur altíssimos, ou uns Talking Heads, uma banda de rock progressiva que abrangia muitas áreas e fazia muitas coisas diferentes. Nós tivemos algum mérito na participação e energia usada num concerto punk, e também por respeitar os grandes feitos da pop negra e de vê-la como uma fonte da qual se podia tirar muita coisa, mas não acho que alguma dessas bandas tenham quaisquer semelhanças com os Plan.
Eu digo-te quem é responsável por isto tudo - os Red Hot Chili Peppers. Eles são um dos maiores e mais influentes grupos. Ninguém queria dizer isto porque os Peppers não são "cool", mas eles foram a banda original de funk rap branco. Eles fazem-no há tanto tempo, desde que eu tenho 12 anos ou algo parecido, e deixaram uma impressão duradoura em imensos músicos em desenvolvimento. Eles podem ser muito embaraçosos e como palhaços, mas isso não tira em nada o enorme impacto que eles tiveram sobre a música. Essa palhaçada embaraçosa é o que os fez chegar a mim e aos outros de 12 anos. Que depois vieram a dizer que as influências deles são mais obscuras e artísticas e mais na moda, é claro.
Também acho que fomos uma das primeiras bandas a tomar uma atitude de desinteresse sobre se algo é underground ou não. Não a criámos mas eu acho que por causa da idade, do temperamento, e dos interesses, fomos pioneiros de uma mudança natural que iria alterar várias atitudes sobre o que é "cool" e o que não é "cool". Mas sabes, isto não faz de nós génios. É tão génio quanto ser o primeiro do teu quarteirão a comprar uma TV com écrã de plasma.

Como é que está a cena de Washington hoje em dia? Antes tinhas os Jawbox, os Brainiac e a cena toda da Dischord. Cá só ouvimos falar de bandas como os Q and Not U, os Black Eyes, mas não muitas mais. O que é que se passa nestes tempos?

Bem, os Brainiac não eram de D.C., mas sim de Dayton, no Ohio. Eu gostava que eles fossem de D.C., podê-los-ia ter visto todo o tempo. Que banda. Bem, há os Q [and Not U] e os Black Eyes, uma banda chamada Beauty Pill que anda a fazer coisas interessantes e tem um álbum agora na Dischord... não sei, as bandas estão mais ou menos a reagrupar-se. É um momento calmo, mas isso acontece muitas vezes.

Pensei que os Brainiac fossem de D.C.. Beauty Pill, vou ver se ouço algo deles. A cena aí em D.C. é unida? Os Plan andaram sempre aliados aos Death Cab For Cutie, mas eles também não são de D.C., pois não?

Não, eles são de Seattle, que é no ESTADO de Washington. A 3600 milhas [5800 quilómetros] daqui. De facto, isto também nos causa muita confusão, aos americanos.

Depois do 11 de Setembro e da guerra no Iraque, tu falaste a favor das políticas do Bush. Não estavas com medo de arriscar a tua "credibilidade indie"?

A maneira como pões essa questão é reveladora.
Eu nunca falei a favor das políticas do Bush. Ele está a fazer um péssimo trabalho.
É indicador do quão mau ele é a ser Presidente que não conseguiu convencer o mundo a substituir um dos ditadores mais cruéis do mundo. Mesmo um que praticava o seu mal no meio dum ambiente geopolítico estagnante e repressivo que estava a manufacturar sempre mais mal, mal que podia perpetrar coisas como a destruição do World Trade Center. Eu não sei como é que ele fez merda aqui, mas fez.
No entanto, a inaptidão dele justificou alguma preguiça filosófica profunda da parte de algumas pessoas. Nós temos algumas escolhas difíceis a fazer sobre o Médio Oriente e como lidamos com ameaças exteriores e eu não senti que muita gente que protestava contra a guerra quisesse fazer essas escolhas. Se esta guerra foi assim tão má, então e o facto dos militares americanos e britânicos andarem a proteger os curdos iraquianos há mais duma década? Isso também é mau? E conseguiam dizer que era mau na cara de um curdo iraquiano? E se não gostassem da substituição do governo do Saddam Hussein, devíamos ter continuado as sanções das Nações Unidas contra ele, que estavam de todos os pontos de vista a arruinar o Iraque? E se também não gostassem dessas sanções, estavam dispostos a eticamente dispôr-se a voltar a negociar com o Saddam? Estas são questões aterrorizantes, do tipo que faz um homem sábio chorar, mas têm de ser enfrentadas.
Infelizmente, senti que muitos preferiam a clareza simplista de ser contra George W. Bush. Em grande parte, o President Bush tem de se culpar a si próprio por isto, mas não faz com que as coisas sejam melhores.
Então a tua questão é reveladora na medida em que tu me perguntas sobre o meu pressuposto apoio das "políticas do Bush" e então quem é focado é o homem, não os acontecimentos reais. O homem é fácil de detestar, mas uma avaliação honesta da situação real está cheia de incertezas agonizantes e complexas. Eu tentei ser honesto acerca da minha própria avaliação da situação.

E quanto à "credibilidade indie", quem caralho é que se importa?

Desculpa, eu devia ter dito "algumas das políticas da administração Bush". Penso que esta questão aparece mais por causa do facto de a maior parte da cena do rock underground não apoiar nada a guerra no Iraque, nem o Bush. Mas tu sempre foste conhecido por não querer saber da "credibilidade indie". E penso que isso é óptimo.

Bem, mesmo as que eu apoiei, penso que ele fodeu!
Eu acredito muito em dar uma chance às pessoas. Essa é uma das melhores coisas de qualquer sistema democrático - tens uma nova oportunidade para governar as coisas quatro anos depois. Ele ganhou por pouco no nosso estranho sistema de votação, por isso não tinha grande entusiasmo atrás dele, mas pensei "hey, ele está lá agora, vamos ver como é que ele se sai" A chance foi-lhe dada certamente... e ele estragou tudo.

Porque é que os Plan nunca vieram a Portugal?

Apanhaste-me. Eu adoraria ir. É uma das melhores partes daquilo que eu faço, ver bons sítios à volta do mundo. Eu quero ver as baleias que vêm a Portugal. Quer-se dizer, nós chegámos a ir à Península Ibérica! É perto, certo?

Baleias? Portugal É na Península Ibérica. Não fazemos parte de Espanha, sabias?

Sim, eu sei que vocês estão situados na Península Ibérica. Estava a fazer uma piada sobre ter estado perto de Portugal mas não ter chegado a ir lá. Como se fosses a Toronto e me dissesses "Bem, cheguei à América do Norte, é perto, certo?".
Fiquei um bocado confuso com as baleias. Elas vão aos Açores, aparentemente. Mas isso é português, certo? Mais ou menos? Talvez toquemos nos Açores e não em Lisboa!

Açores? "Shame on you, Mr. Morrison" Nós, os portugueses, por acaso, pensamos que a maior parte do mundo não sabe onde é raio é que estamos situados. Isso é muito triste, mas é verdade.

Bem, espera aí, os Açores não são um estado autónomo de Portugal? Quer-se dizer, não é como se eu tivesse começado a falar da Nova Zelândia. Penso que o conhecimento dos americanos de Portugal pode ser um pouco maior do que a média porque Portugal teve um grande papel na colonização do Novo Mundo. Não que os americanos saibam, sei lá, o PNB ou a taxa de mortalidade infantil de Portugal, mas sabem que Portugal existe.
Sabes, a maioria das pessoas não sabe onde é que nada é. Como americano, podes ir ao Zimbabué e podes ir à Áustria e cidadãos dos dois criticarão os americanos como ignorantes. A razão dada é que eles sabem quem é o presidente americano mas os americanos não são recíprocos nisso. A coisa é: os zimbabuenas e os austríacos não conhecem os presidentes uns dos outros. Eles sabem o seu próprio, e sabem o americano, mas é só isso.
Eu viajei à volta do mundo e aprendi que as pessoas não sabem muito de nada, realmente.


Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net
14/04/2004