Comecei a escrever o álbum Morning Tones em Agosto de 2005. Nessa altura, não tinha em mente uma label para lançá-lo ou um calendário a seguir – sentia-me mais cativado por experimentar e criar um disco que viesse a alcançar aquilo que me tinha movido inicialmente. Antes das gravações, tinha ocupado imenso tempo com field recordings e o meu objectivo era integrar os sons em torno da minha casa com instrumentos acústicos na tentativa de capturar uma certa noção de tempo e espaço. Trabalhei muito depressa. Descobri rapidamente que a melhor altura para eu escrever estas faixas seria bem cedo de manhã. Isso levava-me a acordar por volta das cinco e meia todas as manhãs e gravar durante uma hora ou perto disso. Por volta de meados de Outubro de 2005, dispunha de quatro demos que me satisfaziam. Uma dessas era a faixa “Morning Tonesâ€, se bem que na sua forma condensada e sem a introdução improvisada de guitarra. Nessa precisa altura, decidi que era altura de procurar uma label que estivesse interessada em lançar este tipo de música. Decidi enviar o material para a Apestaartje e para algumas pequenas labels no Japão e Reino Unido. Por volta desses tempos tinha tocado em alguns concertos locais e tinha calendarizada uma breve digressão pela costa este da Austrália, o que me levou a suspender por um pouco as gravações. No dia após o meu regresso de digressão recebi um e-mail da Apestaartje a referir que gostariam de lançar as faixas desde que complementadas com algo novo que completasse o disco. Afinquei-me de imediato nessa tarefa utilizando o mesmo processo na esperança de escrever duas novas peças mais extensas que completassem o disco. Nesse sentido, adicionei violino e acordeão ao processo. Por meados de Janeiro de 2006 eu tinha duas novas peças concluÃdas, mas o disco continuava um pouco curto. Por isso, revisitei a faixa “Morning Tones†e decidi adicionar-lhe uma introdução de guitarra. Coloquei um único microfone no chão de um estúdio numa quente manhã de verão, deixando o som do equipamento, a minha respiração e os ruÃdos exteriores num segundo plano, de forma a criar uma sÃntese de todas as ideias em que vinha a trabalhar em todo o disco. Pessoalmente, julgo que concluir o disco nestes termos fez com que se assemelhasse ao encerrar de um ciclo.
Há pouco mencionaste a inclusão do violino e lembrei-me de ter lido que tinha sido o teu pai a tocar os sons de violino adicionados. Levou isso a que se tornasse demasiado afectivo um processo em que tens de fazer os possÃveis por te concentrares?
É muito frequente ocorrerem-me ideias durante o dia e, durante o processo de Morning Tones, assim aconteceu. Tomo o meu tempo fora de estúdio como útil à edição de mim mesmo e contemplação. Gravava em cd-r algumas primeiras misturas das faixas que escutaria depois em diferentes alturas do dia. Estava constantemente a escutá-las e a pensar Preciso de outra guitarra aqui. ou Talvez devesse remover algumas camadas nesta parte. Algumas das ideias relacionadas com field recordings surgiam durante o dia, a partir de sons acidentais à volta do meu escritório e casa.
Recentemente considerei em perspectiva uma grande parte dos discos do Lawrence English (patrão de rösner na Room 40) e reparei que muitos podem estar de alguma forma ligados à temperatura. Tudo se tornou mais claro com o recente For Varying Degrees of Winter. De um modo semelhante, “Morning Tonesâ€, enquanto faixa e álbum, levaram-me a escutar as tuas músicas como elementos afectados e sensÃveis à claridade e diferentes tonalidades de luz. Qual foi a influência exacta da luz no processo?
Sei que forneceste à Grain of Sound (label portuguesa a descobrir em http://www.grainofsound.com) uma faixa exclusiva e algumas fotos para publicação na Sonic Scope Quaterly (magazine disponÃvel online). Essas encontravam-se mais próximas, temporalmente e tematicamente, de Alluvial ou Morning Tones?
A próxima questão sai um pouco da rota, mas não posso deixar de perguntar como resultou a performance com o Taylor Deupree? Adoro a cena dele. É utópico esperar uma colaboração entre vocês?
Podemos esperar mais actividade de Pablo Dali (projecto de rösner) para breve?
Neste momento, não tenho quaisquer planos estabelecidos com vista à produção de música sob o nome de Pablo Dali. Associo-o esse desÃgnio a um perÃodo de transição mais associado à IDM e a música orientada pelas batidas. Abandonei totalmente essa perspectiva. Encontro-me mais interessado em abordagens mais abstractas e livres. O último lançamento de Pablo Dali foi o single California Grey na Meupe. Adoro aquelas faixas – representaram o ponto alto do som Pablo Dali. Tentei compor mais material dentro desse estilo, mas termino sempre num beco sem saÃda e leva isso a que me sinta frustrado.
E tens trabalhado em algum material enquanto m. rösner?