Por essa altura [da adolescência], quais eram os teus interesses?
O desporto ocupava um papel bastante importante na minha vida, eu adorava fazer desporto. O meu irmão mais velho era atleta. Ambos praticávamos basquetebol. Eu, como era o mais novo, ficava-lhe sempre atrás, e por isso, acabei por desenvolver um espÃrito bastante competitivo.
Num determinado momento chegaste a estudar Teologia?
Tecnicamente, sim. Estudei Religião na Universidade, em Boston.
Por alguma razão especÃfica?
Nem por isso. Infelizmente, não tinha nenhum grande motivo. Não sou uma pessoa muito religiosa, tão pouco a minha famÃlia, mas estava interessado no conceito de Deus e na grande influência que gera nas pessoas.
(suspiro) Não, mas isso sucede com todos os álbuns que faço, não o ouvi por ser o mais rude. Por ser o disco favorito da minha mulher, tenho-a ouvido a ouvi-lo, mas (pausa)... A última vez que o ouvi foi quando recebi dos rapazes [Animal Collective] a mistura final (não fui eu que o misturei, mas sim o meu amigo Rusty [Santos], tão pouco estive envolvido nas etapas finais de feitura do mesmo). Ouvi-o e fiquei bastante contente e entusiasmado com o resultado final (eles mudaram-no ligeiramente). Isto foi pouco antes do disco sair, há coisa de dois anos.
Nos últimos meses editaste dois singles [“Comfy in náuticaâ€/â€I'm Not†e “Brosâ€], preparaste para lançar um split com os Excepter e já tens o teu terceiro disco misturado [Person Pitch]. Na minha opinião, as novas músicas, especialmente a "Bros" e a "Carrots", são mais positivas, mantendo a beleza e a delicadeza das antecessoras. A paternidade mudou-te? Achas que as novas composições reflectem esse acontecimento?
Sim, sem qualquer dúvida. Podia ficar aqui horas e horas a contar como uma criança me mudou. Essencialmente, reflecte-se na música que faço. Trabalho mais aplicadamente na minha música. Perco mais tempo. Antes fartava-me rapidamente, hoje esforço-me mais. Esse lado positivo de que falas surge de forma meio inconsciente. Depois de Young Prayer não queria voltar a fazer música tão "pesada". Queria algo mais simples. Acho que me transformei numa pessoa muito mais feliz nos últimos dois anos.
As novas canções procuram expressar alguma emoção em particular?
Não apenas uma, mas todo o espectro de emoções presentes no meu quotidiano.
Fala-nos um pouco do teu processo de composição musical.
A "Carrots" foi feita a parir de três partes bem distintas. Quando me apercebi que todas elas tinham o mesmo pitch [tom], "colei-as" tal e qual um DJ.
Como no Dub?
Sim.
Foste directamente influenciado por outros músicos?
Aà está uma pergunta que nunca respondo muito bem. Assim, para o [art-book do] próximo álbum, fiz um painel que ilustra a música que me influenciou.
Podes nomear alguns nomes?
Lee Perry, Luomo, Basic Channel, Wolfgang Voigt, Cat Stevens... Adoro o Cat Stevens. Ouvi dizer que, por questões religiosas, ele se recusa a tocar. Se ele por ventura regressava seria um sucesso.
Assustar-me-ia desdobrar-me todas as noites em dois espectáculos diferentes. E depois seria como se pretendesse vender dois espectáculos num só… não sei, talvez, quem sabe?
Não te sentes muito pressionado? Nem relativamente aos Animal Collective?
[risos] Nada mesmo. Sempre senti que quando for altura para parar, não terei dúvidas. Não estou muito preocupado.