Catarse e liberdade formal, porventura os adjectivos mais associados aos Warmer Milks, traduzem, e bem, a música e postura, de um dos projectos mais misteriosos e surpreendentes do underground norte-americano.
Num curto espaço de tempo (pouco mais de dois anos), o que começou por ser o projecto solitário de Michael Turner estendeu-se a participações alheias (chegaram a ser sete, hoje são três) e editou um sem número de discos, nos mais diversos formatos, mais ou menos obscuros e estilisticamente diferentes entre si: da beleza aterradora de Penetration Initials (Mountaain CD-R, 2005) – monumento de quase de trinta minutos, erigido sobre jogos de guitarra, percussão e sintetizador minimais, vozes lindÃssimas e (im)perfeitas – à exploração rock de Radish on Light (Troubleman, 2006).
São boas. Tocámos hoje o nosso primeiro concerto, em Roterdão [Holanda]. Divertimo-nos a acertar pormenores de último minuto, a testar as coisas e a tentar que tudo soasse bem.
Ouvi dizer que os vossos concertos são intensÃssimos. Para Ben Chasny e Byron Coley [crÃtico da revista Wire] as vossas experiências ao vivo são imperdÃveis. Por onde anda a vossa mente quando tocam?
ImperdÃveis? É bom sabê-lo... Eu não sei o que me passa pela cabeça quando estou a tocar. Mas esforço-me para não pensar em nada.
Warmer Milks começou por ser o teu projecto a solo. Num curto espaço de tempo esse projecto individual transformou-se num trio. Podes descrever-nos esse processo? Quem são os Warmer Milks hoje?
Durante muito tempo usei a voz apenas como mais um instrumento. No entanto, ultimamente tenho me aproximado mais do formato canção, no sentido mais clássico. A minha aproximação ao canto, à escrita e à música no geral, baseia-se no prazer que retiro daquilo que faço. Depois tenho esperança que os outros consigam apreciá-lo…
Antes da música underground, sentias afinidades com alguns cantautores como Dylan, Bowie e Neil Young. Ainda os ouves? Qual o seu papel na tua música?
Simplesmente adoro o Bob Dylan. Não tenho bem a certeza de que forma ele afecta a minha música mas sei como a sua música tocou na minha vida. Ainda oiço o Neil Young, embora muito menos do que ouvia quando era mais novo, mas o David Bowie tornou-se insuportável com o tempo. De repente deixei de conseguir senti-lo...Bem, talvez o Hunky Dory ainda seja um bom álbum, mas há qualquer coisa que me distanciou da música do Bowie. Ultimamente tenho ouvido Lungfish, Daniel Higgs, Frogs, John Cale e Robert Wyatt. Mmmm.
Pressinto uma dimensão espiritual na vossa música, um elemento cerimonial. Concordas? Consideras-te uma pessoa espiritual?
Afastei-me cada vez mais do espiritual. O meu gosto pela natureza e pelo espaço preenche todos os vazios.