Ficam como casas por onde passei e onde vivi com outras pessoas em regime de república.
Há quanto tempo pensavas em assinar um disco simplesmente como JP Simões? Sentes a necessidade de metamorfose de nome cada vez que decides mudar esteticamente com alguma urgência?
Assinei este disco em nome próprio porque o criei de uma ponta a outra sozinho e não porque andasse a pensar em assinar assim ou açores. À crisálida chama-se crisálida, apesar de ser o estado embrionário do que poderá vir a ser a borboleta que, por sua vez, se designa por borboleta.
Sabe-se que o disco se chama 1970 porque foi o ano em que nasceste e pelo regressar a um certo purismo. Como foi encontrar o futuro nos anos 70?
Há obviamente neste disco a influência do Brasil. Como foi descobrir, explorar e ouvir Chico Buarque de uma maneira exagerada?
Sim, obviamente. Chama-se uma pergunta fechada a uma questão que sugere ou impinge a resposta na sua enunciação. Por exemplo: “Como foi descobrir, colher e comer embondeiros de uma maneira tão pornográfica?â€.
Dizes que resolveste assumir em 1970 o teu direito de ser brasileiro. Como achas que seria se fosses brasileiro e se quisesses assumir o teu direito de ser português num disco com as intenções semelhantes a este?
Porque eu não tento apenas aquilo que apelido de luso-samba: na relação entre Portugal e o Brasil existe Portugal, existe o Brasil e existe um imenso mar de relações imaginárias.
Qual te parece ser a reacção do portugueses ao luso-samba? Pode um povo tradicionalmente triste e nostálgico absorver 1970 na sua plenitude?
De que perspectiva te colocas pessoalmente para analisar a tua geração em “1970 (Retrato)� Não te atacou uma certa solidão depois de escrever essa canção?
Apesar de alguns momentos dados a uma certa taciturnidade, este 1970 parece um disco que foi divertido de gravar. Transpira isso em certos momentos. É verdade?
Sem dúvida. Foi como, imaginemos, um divertido e solarengo dia de trabalho numa oficina de mármores e escultura especializada em peças funerárias.
Nem tudo foram rosas neste disco. O atraso na saÃda de 1970 serviu para te tirar a paciência?
Bem, paciência nunca foi o meu forte. Mas o exercÃcio do desespero pode criar novas competências: acho que percebi que não devo – embora tenha o direito de o fazer - perder o meu tempo a chatear-me.