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Dead Combo
Portugal, em volumes


É normal rodar-se a cena de um duo de músicos como um duelo em que ambos se digladiam, se confrontam até à morte. Aqui não é o caso. Pedro Gonçalves e Tó Trips não estão em cima do ringue; estão fora dele, longe, com a distância suficiente para julgar bem as coisas, e têm um objectivo em comum: retratar a portugalidade em volumes. E já lá vão dois. Desde que juntaram (em 2001), os Dead Combo fizeram já alguma da melhor música portuguesa deste novo milénio. Vol. 2: Quando A Alma Não É Pequena, o segundo disco da dupla, que marca a saída da Transformadores e a criação de um selo próprio (Dead & Company), é mais um tr(i)unfo para essa busca que tanto se nota nas suas composições e seriíssimo candidato a disco português do ano. Pedro Gonçalves, parte meia do Combo, aborda em entrevista a maioria dos tópicos actuais ou passados da banda.
A edição do vosso primeiro disco foi extremamente bem recebida em Portugal. Esperavam uma recepção tão boa por parte da imprensa?

Para ser honesto, nunca esperámos que os discos tivessem tão boa recepção por toda a gente. Desde o início que fizemos tudo no sentido de gostarmos da nossa própria música, ou seja, chegar a casa colocar o cd dos Dead Combo a tocar e gostar de o ouvir.

Como foram as experiências dos Dead Combo fora de Portugal?

Apenas tocámos em Londres, integrados no Atlantic Waves Festival, com o baterista Jim Black. Esse concerto foi muito bom e ainda hoje mantemos correspondência com pessoas que lá estiveram e adoraram.

Parece-me que os Dead Combo, até pela sua portugalidade, são um dos projectos mais susceptíveis de terem sucesso no estrangeiro. Esse é um dos vossos objectivos?


Claro, mas para isso há que trabalhar, que é o que temos estado a fazer.

Agora que os Dead Combo têm o apoio e distribuição da Universal, pensam que isso pode acontecer?

A distribuição através da Universal foi muito importante para nós. Fizeram um excelente trabalho a todos os níveis, mas em relação à internacionalização ficou claro que não passaria pela Universal.

Uma das notícias mais faladas sobre os Dead Combo entre o primeiro e o segundo disco foi a saída da Transformadores e a criação de uma editora própria. A que se deveu essa mudança?

À necessidade de mais liberdade a todos os níveis.

Dead & Company, o nome da editora, parece abrir a hipótese de edição a outros projectos. Têm planos nesse sentido?


Para já não. De momento não temos capacidade para editar mais grupos, talvez no futuro.

Sentem de certa forma que os Dead Combo são um dos herdeiros legítimos do legado de Carlos Paredes, ou pelo menos uma certa portugalidade que se deseja eterna?

Sim. É das poucas coisas nas quais pensamos. Manter uma Portugalidade na nossa música.

Participaram com uma tema há algum tempo numa compilação de homenagem a Carlos Paredes. Que outro músico português mereceria já na vossa opinião uma compilação de homenagem onde os Dead Combo gostassem de participar?

Acabámos de entregar o master de uma versão dos Mão Morta que irá ser editada numa compilação organizada pela Raging Planet. Há imensos músicos Portugueses que gostaríamos de homenagear. Com tempo iremos fazendo esse trabalho.

Este novo disco foi gravado na Galeria Zé dos Bois. Como decidiram fazê-lo? Como correram as gravações por lá?

A ZDB é de certa maneira a nossa casa. Temos uma pequena sala de ensaio no 1º andar na qual gravámos o Vol.2. As gravações correram muito bem e a um ritmo bastante relaxado. Quer-me parecer que a experiência ganha aquando do primeiro volume vos deu a capacidade de experimentar mais com este segundo volume.

Este novo disco parece um pouco mais solto e livre que o anterior, e ainda um pouco mais rico sonoramente, concordam?


Sim, completamente. Isso também se deve ao facto de o método de gravação ter sido totalmente diferente. No Vol.1 já tocávamos as músicas ao vivo e quando gravámos, fizemos como se de um concerto se tratasse. Todos na mesma sala gravados ao mesmo tempo. No Vol.2 começámos com ideias que fomos gravando ao longo do tempo. Depois de seleccionadas começámos a trabalhar nessas ideias como que em layers. Foi um trabalho de produção muito diferente.

Nota-se nos convidados as ligações a Sérgio Godinho e aos Humanos. Esses convites tiveram alguma intenção especial? Como fizeram essas escolhas?

Acima de tudo são nossos amigos que sempre nos acarinharam. Convidá-los foi natural. São pessoas que admiramos como músicos e como tal é uma honra ter pessoas assim a trabalhar connosco.

Imaginem que teriam de traçar um roteiro mundial correspondente ao som – ou aos diferentes sons – deste novo disco… Como o fariam? Ou preferiam fazer um nacional, pelas ruas de Lisboa?

Acho que seria mundial. Começaria por Lisboa, passava por Cuba, depois EUA. Desciamos até à América do Sul. Atravessávamos o Atlântico até África, subiamos pelo Médio Oriente até à europa central e voltávamos a Lisboa.

Nota-se igualmente neste segundo volume – e já se notava no primeiro - uma certa sensação cinemática muito apetecível. Quais foram os filmes que mais os inspiraram em 2005?

A mim, pessoalmente foram muitos. O Novo Mundo, Charlie e a Fábrica de Chocolate, Broken Flowers, entre outros.

Além dos Dead Combo participam ainda em outros projectos. Quais são os vossos planos musicais fora dos Dead Combo?

Tocar com o maior número de pessoas possível, o mais musicalmente diverso.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
08/09/2006