Nessa noite ela tocou no Porto, por isso vi-a outra vez. Ainda bem. Disseste
a certa altura numa entrevista a um jornal português que te fascinam as
pessoas que estão agora com 20 anos, porque não são adolescentes,
mas também ainda não são adultos, e que te revês
muito neles. Que estavas tu a fazer quando tinhas 20 anos?
Eu estava um caos, um caos puro e simples. Não se passou assim tanto
tempo, mas eu estava completamente confusa. De facto, ainda estou. As pessoas
com vinte anos estão numa fase de auto-conhecimento, a tentar encontrar
uma identidade. E é um lugar bizarro, não é? Deixas de
ser adolescente, passas a ser adulto, mas nunca foste adulto anteriormente.
E ninguém te vai ensinar como é, vais ter de aprender por ti.
E pensas que é realmente um sítio estranho para se estar, com
20, 23 ou 25. Toda uma idade. E, na minha opinião, qualquer altura nos
teus 20's é um altura confusa, porque é suposto teres encaixado
todas as peças, é suposto teres casado, teres um bom emprego,
bla bla bla...
Sobretudo nos Estados Unidos...
Concordo, mais nos Estados Unidos que em qualquer outro lugar. Mas eu acho que
esta idade me fascina, todos nós temos muito em comum, passamos todos
pelo mesmo. E é uma época tão linda da vida das pessoas,
sabes, porque estão a crescer muito e a encontrar permanentemente pedaços
delas mesmas, seja através da dor, da luta, de um desgosto amoroso, de
um trabalho que arranjas e descobres que o odeias, e a seguir tentas outra coisa
qualquer...Trata-se de uma procura constante de algo, e com a qual me identifico
bastante.
Começaste a tocar guitarra através
do teu pai.
Sim, por volta dos 18. Começámos a tocar juntos...
Curioso, pensava que tinha sido antes.
Não. Quando era menina cantávamos juntos imensas vezes, e é
nisso que estás a pensar, provavelmente. Cresci com dois pais músicos,
por isso, aos cinco estava a tocar com eles. Mais tarde, quando tinha 17 ou
18 anos, eu e o meu pai começámos a fazer concertos juntos, só
eu e ele. Por isso, toda a minha vida foi feita de actuações com
os meus pais, e também com os meus irmãos mais velhos, foi sempre
algo que fizemos. Desde que nasci, basicamente. Mas não foi antes do
secundário que eu e o meu pai começámos a tocar juntos,
e a escrever canções.
Conheceste o Eric [Fisher, guitarrista] na escola,
não foi?
Sim, sim, conhecemo-nos na faculdade. Foi há cerca de três anos,
por isso, não foi há tanto tempo como isso. Ele foi a primeira
pessoa com que pensei em tocar. Sabes, quando contas às pessoas que tocas
guitarra toda a gente diz "oh vamos fazer uma jam! vamos tocar todos!"
e eu recuso sempre...O Eric foi aquele amigo que eu pensei "tudo bem, vamos
ver o que acontece, vamos experimentar tocar guitarra juntos". E ele conseguiu
acrescentar coisas lindas ao que eu estava a fazer, e foi a primeira vez que
eu realmente pensei em tocar com uma banda. Foi muito fixe.
Quando é que descobriste que a música
era a tua vida? E quando é que te começaste a dedicar a ela completamente?
Oh gosh...em períodos diferentes da minha vida. Quando era muito nova,
a ver os meus pais a cantar e a observar o quanto a música afectava as
pessoas. Adoro observar e adoro perceber o quanto mudou as pessoas. E depois,
provavelmente terá sido no secundário...
...em "I Play Music", tu dizes "Lord knows
i've tried everything else". Que coisas incluis, que coisas tentaste neste
"everything else"?
Agricultura biológica, tentei isso. Vocês têm quintas biológicas
por aqui?
Poucas. Mas vamos tendo mais a pouco e pouco...
A sério? Que bom! Bem, tentei agricultura biológica, tentei viajar...viajava,
apenas! Tentei escolas diferentes, andei em diversas escolas a estudar teatro,
a estudar qualquer coisa. Pensei em tudo. Em ser uma agricultora e trabalhar
com o meu avô na quinta e ordenhar vacas. No fundo, estava sempre à
procura de algo que me fizesse feliz. Pensava que a música era um escolha
demasiado fácil. Era o que todos esperavam de mim, entretenimento. Assim,
rebelei-me e decidi-me a tentar tudo o resto. Obviamente que me trouxe de volta
à música, porque é a única coisa que posso fazer
todos os dias e ainda assim gostar tanto dela.
Isso remete um pouco para aquela conversa dos
20 anos. É bom tentares-te encontrar através de outras coisas
que não a música, não é?
É verdade! E é o que eu digo às pessoas.
Eu falo por mim, tenho a necessidade de experimentar
coisas diferentes.
E é o que tu deves fazer, é esse o conselho que dou a toda a gente.
Precisas de fazer as asneiras todas para voltar de novo onde realmente interessa.
Não se trata de encontrar essa coisa realmente importante, e está
feito. Na verdade, o mais importante é o que está por fora, tudo
o resto, até que vais estreitando as hipóteses. Eu costumava ter
uma checklisk onde apontava "ok, já estive na Europa, ok, já
fiz isto, ok, já fiz aquilo, ok, vou ser agricultor com o meu avô,
ok, fica muito quente no verão e eu odeio aquilo, vou apanhar feijão
verde todo o dia, não, isso é um terror!" [risos]. Vais verificando
as coisas que já fizeste e acabas por fazer um círculo na última
"oh pá, que chatice, é a música!" [risos]
Achas que é o facto de falares sobre as
coisas mais comuns - e as mais primordiais, como o amor, a perda, a família
-, sem a atitude de considerar a vida miserável, que torna as tuas estórias
e músicas tão fáceis de identificar, tão fáceis
para as pessoas pensarem "oh! esta música é mesmo sobre mim!"?
Sim! Na minha opinião a simplicidade é o melhor caminho a seguir.
Se conseguires ser nem demasiado específico nem demasiado lato, aí
todas as pessoas dirão "eu estive aí". Já toda
a gente teve um coração destroçado, já toda a gente
se apaixonou. Mesmo se se tiver 10, 15, 20 anos, todos passaram por isso. Já
toda a gente ficou desapontada, já toda a gente sofreu grandes julgamentos,
já toda a gente foi forçada a lutar. E eu penso que algumas pessoas
não têm facilidade em admiti-lo, por isso eu tento, de certa forma,
admitir por eles...
...é mais fácil para eles...
Exactamente. E talvez assim eles não tenham de dizer a ninguém,
e isso é algo a que dou importância. Se eu consigo verbalizá-lo...Sabes
toda aquela brincadeira de fazer um homem chorar? Eu sempre adorei estar com
pessoas muito circunspectas e meter-me com elas. Eu sei que elas alinham numa
boa gargalhada, toda a gente quer rir. E é um sempre aquele desafio.
Por isso, o meu objectivo é libertar essa faceta das pessoas.
Como se fosses para além da carapaça sisuda
de algumas pessoas.
Sim! Toda a gente tem alegria... Toda gente tem amor dentro dela...
Talvez esteja escondido algures...
Ou outras pessoas esconderam-no por elas e disseram que todos esses sentimentos
estavam errados. Ou então é um enorme síndroma que faz
com que ninguém queira estar à beira de uma pessoa que esteja
triste, porque é aborrecido. E eu acho que é uma treta! As pessoas
precisam umas das outras. É nos momentos em que as pessoas estão
em baixo que vão precisar de ti, se fores amigo delas. Todos nós
temos de lutar, e é ridícula a obrigação das pessoas
estarem felizes o tempo todo. Porém, isso não implica não
encontrar um certo equilíbrio. Eu estou um caos, estou totalmente confusa
sobre tudo, contudo procuro encontrar caminhos para ter alegria na vida, porque
esta é uma grande, grande dádiva. Viver é uma coisa maravilhosa.
Eu sinto uma esperança tão grande, mesmo que por vezes me sinta
no meio de um turbilhão de desespero. Por isso, tens razão, eu
não me detenho muito a pensar, apenas me livro das coisas. Não
me detenho, é assim que sinto, certo? E não me importo. Se achas
que não faz sentido, óptimo, mas tenho a certeza que não
achas, porque eu apenas sinto o mesmo que qualquer pessoa. Todos nós
temos uma forma em comum de sentir as coisas, sabes? Na verdade, eu sou muito
vulgar. Posso trazer vestida uma t-shirt engraçada mas não sou
diferente das pessoas. E é esse facto que me faz estar tão ligada
a essas pessoas. Nós somos muito similares, não somos?
A própria música é uma forma de nos encontrarmos
a nós mesmos...
Sim! Para mim é! Tanto quando escrevo ou quando oiço...
E quando estás no teu quarto, a sós
com a guitarra, e a compor...É como uma confidente, não é?
É alguém com quem podes partilhar as tuas emoções,
os teus pensamentos...
Sim, e para além disso não me diz que estou a ser uma seca [risos].
Tens razão.
Quais são as recordações,
as memórias que constroem a tua música?
Os meus pais passaram por um processo de divórcio, o que libertou diversas
coisas em mim. Talvez me tenha apercebido que nada é eterno, tudo se
pode desmoronar a qualquer momento e não saberás lidar com isso.
Penso que me fez olhar para a vida de uma maneira diferente. Agora sei que nada
é permanente, e lembro-me constantemente disso. Não que queira
viver refém da ideia de que tudo vai ser roubado, mas, de certa forma,
estou preparada para isso. O facto de ter tido desgostos amorosos, tal como
qualquer pessoa, fez-me olhar para isso e pensar "como é que te
sentes agora? isto é uma merda!", sabes? "Como é que
vais ultrapassar esta situação? Não sei. Olha, escreve
sobre isso". Tudo na minha vida tem algo de confuso. Eu já tentei
tudo. Mesmo tudo. Neste momento, sinto que tentei todas as coisas possíveis.
Por outro lado, tenho enormes expectativas sobre mim mesma. Enormes. Mais ninguém
tem, apenas eu. E, por vezes, acabamos por nos transformar no nosso pior inimigo.
Quando falo para os meus botões "É suposto seres melhor do
que isto. É suposto seres mais corajosa. O que é que tens?".
Como se, por vezes, precisasse de atirar o meu próprio cérebro
para o mais longe possível. E é deveras triste constatar que devia
ser eu a tomar conta de mim, mas que, ao invés, continuo a dizer para
mim mesma "não és suficientemente boa". Mais ninguém
me faz isso. Os meus pais não o fazem, eles expressam sempre o orgulho
que têm em mim. Portanto, o que alimenta a minha escrita é o meu
eu, é por vezes as batalhas entre os meus pensamentos. Sempre me confrontei
com os meus sentimentos, e sinto-me à vontade com eles, sinto-me à
vontade para expressá-los. Ou seja, acho que estou num contacto permanente
comigo mesma.
E qual é o papel da tua família
no meio disto tudo?
Bem, eles são simplesmente fantásticos. É uma família
muito chegada, mesmo após o divórcio dos meus pais...
Ouvindo a tua música, para além
do divórcio dos teus pais e de todos os danos subjacentes, transparecem
sempre um afecto e um amor enormes.
Sim,
e é disso que se trata, não é? Tudo isto te molda de forma
a te transformares numa pessoa melhor, se conseguires olhar para a vida dessa
forma. E é assim que eu olho, porque foi uma escolha que eu fiz - e apenas
tens de fazer a escolha e ir com as ondas. Todos estes acontecimentos, o meu
coração despedaçado, ver os meus pais a separarem-se, eu
e o meus irmãos a termos de lidar com isto...tanta gente passa por isto,
de maneira que o lado positivo disto tudo é a oportunidade de conversar
com outras pessoas "como é que sentiste? não foi horrível?".
Acabas por ter o ensejo de falar imenso e de partilhares coisas em comum com
as outras pessoas. Suponho que toda a provação por que passei
faz-me falar com outra pessoa "também tiveste nesta situação?
foi mau, não foi? eu fiquei destroçada. e tu? eu também,
pá...estou sempre a beber para esquecer" [risos]. A minha família
continua a ser essencial para mim, e por vezes tenho a sensação
que é a minha música que nos une. Como uma alavanca. E no fundo
continua a haver uma sensação de família, tens razão.
Quando lhes pedi para fazer parte deste disco, a minha mãe chegou a casa
do meu pai e os meus irmão também lá estavam. E, por uma
hora, fingi que éramos uma família de novo, e que o amor não
tinha desaparecido. E ter a minha mãe e o meu pai, juntos, a cantar,
mais os meus irmão no meu quarto, ou seja, todos nós juntos de
novo, pensei secretamente "wow, é assim que seria se eles continuassem
juntos", por isso, partilhar isso com eles e dar-lhes esta dádiva
foi algo de muito especial. E o meu pai adora tanto a música, é
ela que o alimenta, e ele está tão orgulhoso porque pode finalmente
dizer "a minha filha está a fazer o que eu fiz", sabes? Talvez
até seja uma questão de orgulho por parte dele, mas não
me importo, eu consinto-o. Ele tem 62 anos, e se ele pode ser parte do meu álbum,
se ele pode ser parte de mim, eu deixo-o ser. Gosto muito de partilhar as minhas
oportunidades, especialmente com a minha família.
Qual foi a sensação de gravar num
local como a igreja de St.Thomas [a igreja mais antiga de Detroit] com a tua
família? Ela exala espiritualidade, não é?
É verdade, e eu acho que uma igreja é um local tão único.
E com uma acústica fantástica. Foi desde sempre algo que quis
tentar, chegar a uma igreja e permanecer lá, é tão natural.
Toda a gente devia gravar um disco numa igreja, é genuíno, capta
tudo tão naturalmente...
Ontem à noite estava a conduzir sozinho,
e estava a chover. E eu estava a ouvir o início da "Let myself fall",
e subitamente apercebi-me da beleza daquilo.
Oh, que bom! Acho que vou começar a ouvi-la à chuva!
De certa forma, precisa-se de escutar o teu álbum
sozinho, à chuva. Uma vez escrevi que não há nada como
ouvir a Lisa Germano numa tarde chuvosa. E à noite, enquanto conduzia
e ouvia a tua voz, senti algo de muito parecido.
Toda a gente tem um lugar diferente para ouvir música, sabes.
Acho que tens razão, existem certas raízes para tudo. Quando conduzo
tenho sempre alguns CDs obrigatórios, tenho sempre um para quando vou
conduzir para as montanhas e fico agitada [risos], e tenho sempre alguns que
oiço à noite. E há a música, os álbuns que
tu ouves quando estás magoado, quando tens o coração destroçado.
A música é uma coisa incrível. A forma como te pode influenciar,
relacionar. Como se de repente deixasses de te sentir só, porque alguém
está sentado ao teu lado.
É uma linguagem universal, afecta-nos a
todos.
Sem dúvida.
Achas que a música é uma forma de
não deixar a ingenuidade e a candura da infância escaparem-se?
Sim, acho que por vezes é uma oportunidade de lembrar uma série
de coisas da nossa vida. Canções que oiço, com os meus
pais a cantar, e que me remetem para a minha infância, sempre foi assim.
Existe uma música muito cheesy do Neil Diamond, chamada "Hello Again",
que me faz chorar, porque me faz lembrar o meu pai quando eu tinha 8 anos e
ele cantava essa canção. De cada vez que a oiço na rádio
desfaço-me em lágrimas! Por isso, acho que a música te
pode levar a tantos sítios diferentes. Às vezes pode-te transportar
para o futuro, e tu pensas "wow, talvez um dia me esteja casada e tenha
filhos!"[risos]. E também te pode transportar para o passado.
Igualmente, quando fazes música também
podes ser uma criança de uma maneira que as pessoas não te permitem
ser noutras coisas.
É verdade, é verdade. Podes revelar tudo.
Novamente sobre a Lisa Germano. Considera-la uma
influência? A "Finish Line" tem uma frase de piano semelhante
a uma música dela. É alguém com que te identificas?
Lisa Germano? Qual é a nacionalidade dela?
É americana.
Não tenho nenhum álbum dela, mas preciso mesmo de tentar arranjar
alguma coisa dela. Li tantas entrevistas excelentes, e fiquei curiosa. Ela e
a Nico...não Neko Case...Nina Nastasia. Não tenho nada dela, mas
preciso mesmo de arranjar, porque sei que vou adorar a música dela.
A voz dela é lindíssima.
É o que tenho ouvido! Tenho lido algumas entrevistas e ela parece fantástica.
Tens é de me dizer que álbuns devo comprar, e eu compro-os...Podia
tentar arranjá-los aqui [na Fnac], não achas? [risos]
Foste votada na escola como a pessoa com mais
sentido de humor, mas quando ouvimos a tua música nunca poderíamos
imaginas que existe uma Sheila por trás. Ela e a Rosie Thomas são
uma espécie de Dr. Jekyll and Mr. Hyde?
Suponho que sim! Penso que acabamos todos por ter duas partes de nós
de que gostamos mesmo muito, e estas duas partes são bastante similares,
porque o contacto com os teus sentimentos traz a comédia ao de cima muitas
vezes, acho eu.
É uma espécie de contraponto à
tristeza...
Sim, embora a comédia faça parte de toda a minha vida.
Sempre fui muito brincalhona, sempre quis fazer as pessoas rir. No fundo era
um lugar para me esconder, esconder através do "Agora vou ser a
miúda com piada. Não sou loira e vistosa, então vou ser
apenas a miúda divertida". Assim, foi um lugar para me esconder
de vez em quando, esconder as minhas inseguranças através da comédia.
Mas agora eu adoro-a, simplesmente adoro fazer as pessoas rir, e sempre foi
algo que me deu imenso prazer fazer. Desta maneira, com a música a ser
séria praticamente o tempo todo - como será sempre, acho eu, porque
é a única maneira de ir ao encontro das outras pessoas e relacionar-se
com elas, e espero que elas venham ter comigo também - adoro também
a outra parte, fazê-las rir. E a vida é a conjugação
dessas duas partes.
Quais são as diferenças em relação a "When
we were small"? Os títulos indicam uma: enquanto que o primeiro
álbum falava sobre o passado, este aponta para a luta do presente e para
a esperança do futuro.
Acho que é isso, disseste quase tudo. O primeiro foi uma reflexão
sobre o meu passado, este último fala sobre tudo o que estou a aprender
neste momento. Até agora foi isto que aprendi, até agora foi isto
que me confundiu, até agora são estas as minhas questões
sobre a religião, a fé, o amor, tudo sobre o qual estou insegura,
questões que vou ter de saber ultrapassar. Que vou eu dizer às
pessoas? Vou dizer como ultrapasso os obstáculos. Vou dar o meu riso.
E explicar porque não levar as coisas demasiado a sério. Essa
é de alguma maneira a minha mensagem para as pessoas.
Consideras-te mais madura agora?
Acho que sim! Sim! Por vezes as coisas melhoram quando cresces mais
um pouco, porque tens mais contacto com quem realmente és, e tens mais
confiança em quem tu és. Páras de desculpar-te pelo que
acontece. E acabas por te conhecer melhor, vais arrancando as ervas daninhas,
aquilo que não interessa. Por isso sim, acho que me conheço melhor
agora e acho que estou mais confortável na minha própria pele.
As tuas últimas palavras neste álbum são "Oh, where
do we go? Oh, nobody knows". Tens alguma ideia para onde estás a
ir? Qual é o teu futuro?
Sinceramente não sei, e está aí o cerne da questão.
Essa música ["Dialogue"] foi escrita durante uma conversa com
um amigo que estava realmente assustado com questões como "Quem
sou eu? Em quem me vou transformar? Como é que vou fazer tudo?",
e eu sinto-me como ele, por isso essa foi a primeira música que escrevi
que não tinha resposta. Não faço a mínima ideia,
e ninguém sabe. Algumas pessoas pensam que Deus sabe, quaisquer que seja
a situação em que estejam metidas...
Acreditas em Deus.
Acredito, eu tenho uma fé muito forte, por isso deixo muitas
coisas para ele "Ok pá, tu vais ter de descobrir, eu não
tenho nenhuma pista! Olha para mim. Não percebo nada". Por isso
não sei, não faço a mínima ideia para onde estou
a ir. E tento arranjar paz no meio disso tudo, uma esperança no caminho.
Eu não faço a mínima ideia, mas alguém faz. Não
tenho de ser sempre eu a juntar as peças todas, fiquei tão farta
de ter de ser sempre eu a descobrir tudo. Quando descobri a fé, ajudou-me
a pensar "Que bom, Deus tem a minha vida sob controlo, é fixe, ele
sabe para onde estou a ir, é óptimo". E é aqui que
estou neste momento. Não sei para onde vou. Pelo que eu sei, até
podia ficar por aqui. Sabes? Mas tenho de estar ok com isso, e é sobre
disso que a música fala, uma espécie de realização
de que tu não sabes, simplesmente. Ninguém sabe, pois não?
Não tenho respostas para isto, e na verdade ninguém tem, mas resta-nos
apenas a esperança de viver o dia a dia e ver para onde somos transportados
e que coisas vêm ao nosso caminho. E sentirmo-nos cheios de sorte, por
estarmos vivos, por termos as coisas e as grandes oportunidades com que fomos
presenteados.