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Wooden Wand and The Vanishing Voice
Putas cósmicas


“Uma verdadeira puta cósmicaâ€, diz James Toth dos Wooden Wand and The Vanishing Voice (WWVV) sobre si mesmo. Apetece concordar com ele, tal a multiplicidade de registos e projectos em que tem deixado o seu dedo psych - um caldeirão psicadélico onde cabe a folk mais despida de Alexander “Skip†Spence, a liberdade dos No-Neck Blues Band e o sentido de jam dos Grateful Dead. “Gipsy Freedom†(2006, Kill Rock Stars), o último com os Vanishing Voice, é um soberbo álbum capaz de ir do hard rock mais estrambólico ( “Don’t love the liarâ€) às trips improvisadas a reboque do saxofone do convidado Daniel Carter. O Bodyspace falou com James Toth sobre esse disco, religião, a psicadelia moderna e “Second Attentionâ€, gravado por Toth e amigos, com edição marcada para este mês.
Como é que os Wooden Wand começaram?

Começámos a tocar informalmente por volta de 2003. Sentimos que o mundo estava a precisar de outro grande disco de psych cristão. Só tínhamos a ideia de fazer um disco: XIAO.

Como é que operam, com a incorporação constante de convidados para além do vosso núcleo duro?

Depende de quem estiver a liderar as hostilidades. Actualmente, a versão maior dos WWVV é altamente democrática. Geralmente, limitamo-nos a juntar e ver até onde vamos.

Li que não gostas da conotação que a música improvisada tem com a intelectualidade. Como é a tua relação com a improvisação? Estás mais interessado nos momentos de improvisação do rock’n’roll do que no Derek Bailey?

Gosto do Derek Bailey, mas sinto que há um abismo entre o que ele faz e o que nós fazemos. Adoro música improvisada, especialmente free jazz, mas tem que ser selvagem e não académica. Gosto de pensar que nós vimos mais de um cruzamento entre Charles Gayle e Grateful Dead – tocar com e para as estranhas e não necessariamente para o cérebro.

Viveste em Nova Iorque mas agora está no Tennessee. Nova Iorque não é aquele sítio que toda a gente diz ser excelente para desenvolver uma actividade artística?

Não. É muito cara e populosa. Muitas pessoas estão enganadas quando pensam que a Nova Iorque dos dias de hoje é diferente de qualquer outra metrópole. Há quem consiga viver lá e criar arte maravilhosa, mas sempre achei a cidade um enorme impedimento para o meu trabalho. Gosto de calma.

Qual foi a importância dos Golden Calves, a banda psych/improv a que pertenceu, na definição do que viriam a ser os WWVV?

Os Golden Calves acabaram quatro anos antes de começar os WWVV, e com a excepção de continuar a trabalhar com DM Seidel e usar um título de uma canção - havia uma chamada “The vanishing voice†no nosso último disco - não trouxe muito deles para esta banda.

De que forma o Matt Valentine e a Erika Elder foram importantes na tua descoberta destas músicas?

A Erika era minha colega de escola antes de ela conhecer o Matt mas não a conhecia ainda muito bem nessa altura. Conheci o Matt melhor primeiro. Ele foi sempre muito importante em moldar os meus gostos desde cedo. Adoro a música dele e ele é uma boa pessoa. Como músicos e pessoas, são dos melhores que se pode conhecer.

Que músicos te levaram a fazer música e ainda te inspiram?

Muitos discos antigos de psych, muitas edições limitadas, e, claro, Neil Young, The Dead [Grateful Dead], Townes [Van Zandt], Dylan, Royal Trux. Metal antigo, especialmente os primeiros quatro discos dos Slayer e os três primeiros dos Danzig. Blues antigo como Blind Willie McTell, Big Bill Broonzy, etc. Os Incredible String Band, Amon Düül, Quicksilver Messenger Service, Joe Walsh.

E de que músicos e discos dos últimos tempos estás a gostar mais?

Sempre gostei dos Drive By Truckers e vou ver concertos deles sempre que posso. Adoro os novos discos dos Om, Scott Walker, Brightblack Morning Light, The Knife e Jolie Holland. Achei o último disco do Alexander Tucker muito bom. Também gosto de música dos meus amigos. Adoro Feathers, Matt Valentine, Davenport. Flatlanders e Jimmie Dale Gilmore em geral. Os discos de misturas dos Rub n' Tug são óptimos. Os Oakley Hall são fantásticos ao vivo. O novo disco dos Sonic Youth arrepia-me, especialmente a canção do Lee.


Como é que nasceu a colaboração do Daniel Carter em "Gipsy Freedom". Ele é uma verdadeira lenda do free jazz ...

É mesmo. Tocar com eles foi um dos maiores momentos da minha vida musical. O Lucas conhecia-o da cena improv nova-iorquina, e quando sugeri que ele lhe ligasse, o Daniel mostrou-se disponível e, depois disso, tentou mesmo recusar o bilhete de comboio que lhe ofereci como pagamento. Ele tem um amor à música e à arte tão óbvio e palpável. É uma grande inspiração para todos nós.

Há já novos discos planeados para os WWVV?

Ainda não há nada planeado, mas tenho a certeza que vamos fabricar alguma coisa em breve. Tenho um novo disco, “Second Attentionâ€, para sair na Kill Rock Stars, e um EP, “Horus of the Horizon on Threelobedâ€, que vai ser lançado no Outono. Vou dar concertos para promovê-los. E vou tentar descansar um bocado.

O “Second Attentionâ€, com edição agendada para este mês, vai seguir a linha de "Harem of the Sundrum & The Witness Figg"?

O novo álbum foi gravado com uma banda, a Sky High Band, com membros dos Skygreen Leopards, The Vanishing Voice e o meu bom velho amigo Clay Ruby dos Davenport. Estou muito excitado com o disco.

Como é que abordas a tua produção a solo comparado com os WWVV?

As coisas a solo são muito diferentes na abordagem porque parto com canções pré-concebidas em vez de apenas conceitos. Se pensar bem, é o que eu prefiro fazer.

A discografia dos WWVV é interminável. Nunca sentiram que podem estar a lançar discos que não são assim tão bons? Ou, como os Sun City Girls proclamam, o “lixo†faz parte do caminho estético que a banda segue?

Teoricamente gosto dessa ideia, mas julgo que afirmar que fazemos isso intencionalmente seria desonesto. Toda a gente tem o direito à sua opinião, mas assumo tudo o que fizemos. Dito isto, é um facto que guardamos as nossas coisas preferidas para os lançamentos mais “sériosâ€.

A religião é algo importante nas tuas letras. Trata-se de um input místico ou é mais do que isso? Qual é a tua relação com o divino?

É pessoal. Se alguém entende as canções como séries de pistas ou códigos, não vou dizer-lhe que está errado.

Já te autodefiniste como um “diletante espiritualâ€.

Isso quer dizer que ainda estou à procura. Considero a ortodoxia fascinante em todas as suas formas. [Sou] Uma verdadeira puta cósmica.

Vêem-se como parte activa numa cena folk/psych crescente?

Ainda não vimos isso. A assistência nos nossos concertos tem sido regular desde o início. Não há uma cena, apenas um género imaginário inventado por jornalistas e relações públicas. Tenho muitos amigos que tocam guitarra acústica, mas também tenho muitos outros que não.

É uma fase passageira?

Se concordarmos que existe, passará. Como o grunge ou o trip-hop antes dela.

Esta popularidade pode afectar a criatividade dos artistas ou a sua pureza, se é que isso existe?

As pessoas que estavam a fazer isto antes das barbas ficarem na moda vão continuar a fazê-lo.


Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com
19/08/2006