Comecemos logo por falar em The Shine of Dried Electric Leaves. À primeira audição – e provavelmente em muitas mais – fica no ar a ideia de que quis fugir àquilo que tinha feito no primeiro disco. Parece um disco muito mais intimista e até mais exploratório em termos musicais. Concorda? Sentiu essa necessidade?
Não quis fugir de nada, só continuei a seguir o meu coração e deu no que deu, saiu esse som que saiu nesse disco.
O tÃtulo tem algum significado especial?
É a imagem de uma acção que no meu universo resultaria no som desse disco.
De acordo com o press release, este novo disco contém 10 originais da sua autoria e três versões para temas de Tom Waits, Caetano Veloso e Train Station. Como aconteceram essas escolhas? Quais foram as que ficaram para trás ou guardadas no baú?
â€Train Station†foi escrita por mim e por Apollo Nove, é um erro de impressão no release que diz que é uma versão. Não ficou nada no baú, o que deu vontade de gravar foram essas, e então foram gravadas.
Este novo disco conta com participações de gente como Devendra Banhart, Seu Jorge e Spleen, colaborador das CocoRosie. Como aconteceram essas colaborações?
São amigos meus, eu só os convidei e eles vieram.
The Shine of Dried Electric Leaves foi produzido ao longo de 18 meses. Foi o tempo necessário ou o tempo possÃvel?
Foi o tempo necessário, eu não paro de trabalhar em um disco enquanto eu não sinto que ele esta pronto.
Quais são as consequências de ter andado com as canções deste novo disco de Londres para São Paulo e vice-versa?
Essa riqueza sonora, esse disco feito a muitas mãos com a alma de muitas pessoas de lugares diferentes. Unidade.
O duo com Devendra Banhart dá-se com o tema “London, Londonâ€, o primeiro single deste The Shine of Dried Electric Leaves. O interesse em Londres, onde reside actualmente, é partilhado pelos dois autores das vozes?
Não sei quanto ao Devendra em relação a Londres, o que sei é que o Devendra é fã de Tropicália e do Caetano Veloso.
Como se dá a sua mudança para Londres?
Ih, já faz tanto tempo... mudei-me para cá por que minha gravadora fica na Europa, vim ficar mais perto para poder viajar mais fácil e conhecer gente do mundo todo, Londres é um pólo onde todos se encontram.
Como tem sido apresentar este The Shine of Dried Electric Leaves? Lida bem com o diferente tipo de ambiente e de atitude do público que este novo disco, pelas diferenças em relação ao primeiro, pode gerar?
Claro que sim, eu olho do palco e vejo as pessoas sorrindo, dançado estranhando, depois sorrindo de novo, depois prestando atenção, é um show muito diverso e rico em influencias e cada faixa leva-te para um lugar diferente e isso reflecte-se no rosto das pessoas.
O seu concerto em Madrid foi cancelado devido a uma inesperada carga de água, um pequeno temporal depois de um dia de sol. Como é chegar a uma cidade para actuar e não o fazer por razões alheias? Já lhe aconteceu isso muitas vezes?
Foi a primeira vez e fiquei muito triste, mas não podia fazer nada... Se nós subÃssemos ao palco, poderÃamos morrer electrocutados por que os cabos todos estavam ensopados e o palco estava muito perigoso, nem que eu fosse louca de subir no palco nestas condições, as pessoas do evento não nos deixariam subir ao palco.
Voltando ao seu passado, o que recorda de Suba e do seu trabalho inicial no disco São Paulo Confessions como vocalista principal?
O espÃrito dele, a generosidade dele e o talento absoluto dele.
Sente falta de São Paulo? E do Brasil?
Claro que sim...
Disse algures que gostava de utilizar a sua vida como se fosse um laboratório. Quais são as experiências e conclusões a que chegou até agora?
Que sempre que a gente chega a conclusão que sabe muitas coisas, e vida te mostra que você ainda tem muito "arroz e feijão" para comer, e isso é lindo, a vida é uma escola, é um laboratório da alma, para crescer como ser humano, com amor e lucidez.