ENTREVISTAS
Dônica
A mais-que-nova geração brasileira
· 02 Mai 2016 · 12:17 ·
Pela música, não cabe dizer que são jovens. Mas o fato é que os Dônica estão por ali entre os 20 anos de idade, o que comprova que para alguns a maturidade chega mais cedo. Os cariocas parecem terem composto as suas música exactamente na fronteira entre Rio de Janeiro e Minas Gerais. Melodias lindas e arranjos capazes de conquistar gerações passadas ainda marcadas por outras influências. É aqui que está a piada: a reconstrução de do que já era bom. Deu certo. Foi a materialização da viagem no tempo mais desejada pelos adoradores de Clube da Esquina. O resultado do primeiro disco, Continuidade dos Parques, alcançou um balanço mais que positivo. Os Dônica já têm no currículo parceria com Milton Nascimento, concerto no Rock in Rio e no Lollapalooza Brasil. Vale a pena ouvir, ouvir de novo e recomendar. Falámos com o Baixista Miguel “Miguima” Guimarães para saber um bocado mais dos Dônica.
Bom, primeiro gostava de saber como é que aconteceu a formação da banda?

Lucas, Deco e Zé formaram uma banda para ficar levando som de brincadeira. José começou a ficar mais amigo de Tom, e os dois começaram a compor. As composições foram entrando na banda pelo Zé, e Tom entrou para o conjunto naturalmente. Mais tarde, com a banda já formada, eu (Miguel) fui chamado para entrar como baixista.

À propósito, de onde vem o nome da banda?

O nome da banda vem da primeira música que Tom e Zé fizeram juntos, que se chamava Dônica.



O Continuidade dos Parques é um belissímo primeiro álbum. Como foi o processo de criação do disco? Digo, desde as composições até o processo de produção...

As músicas foram sendo feitas ao longo do tempo, não paramos para fazer um disco. Escolhemos as músicas que nós mais gostamos e trabalhamos muito no estúdio, refazendo arranjos e procurando timbres. Tivemos muita ajuda dos nossos produtores Daniel Carvalho e Berna Ceppas.

Quais foram as principais influências, actuais e antigas, que vocês tiveram para avançar neste projecto?

São muitas... Supertramp, Clube da Esquina, Caetano Veloso, Snarky Puppy, Take 6, entre muitos outros.

A primeira coisa que pensei quando ouvi o som de vocês foi: que som mineiro. Foi propositado ou a identidade de vocês é mesmo totalmente carioca?

Somos apaixonados por Clube da Esquina e a música mineira, sempre escutamos muito, mas não fazemos músicas com o objetivo de remeter a esse tipo de som, as referências aparecem naturalmente.

Vi algumas considerações vossas sobre a diferença entre o disco e os concertos da banda, entre algo melancólico e mais rock ´n´ roll. Sentem que esta a identidade ainda está em construção?

Nossa identidade sempre estará em construção, não pretendemos nos prender a nada. Nosso show soa mais Rock n Roll porque ao vivo somos mais espontâneos, e nas gravações somos mais precisos e calculistas.

Com esta sonoridade de Clube da Esquina, a participação de Milton Nascimento na canção “Pintor” foi perfeita. Podem falar um pouco sobre esta experiência de gravar com um ícone da música brasileira?

Foi uma experiência impressionante. Ouvir Milton cantar do seu lado é quase uma epifania. É imensamente gratificante escutar uma lenda cantar sua música, foi especial.

Como estão a receber a resposta do público, inclusivo do público um pouco mais velho?

Apesar de sermos uma banda jovem temos muito mais influências antigas do que contemporâneas. Por isso, muitas vezes a identificação do público mais velho é maior, mas acredito que conseguimos fazer um trabalho moderno com um toque antigo, que conseguiu agradar tanto os jovens quanto o público mais velho.



Não consigo ver nada muito parecido, hoje no Brasil, com isto que estão a fazer. Os Dônica pretendem iniciar um “novo ” segmento na música brasileira, quase um novo clube da esquina?

Não é de nossa pretensão iniciar um novo movimento musical no país, tudo o que queremos é fazer nossa música e apresentá-la para o mundo.

Percebi que vocês têm uma certa proximidade de artistas tão consagrados, como Milton Nascimento e o próprio Caetano Veloso, por ser o pai do Tom Veloso. Sentiram-se mais preparados para lançar o disco, por conta disso?

O convívio com lendas vivas da música brasileira nos dá a oportunidade de viver experiências que ficarão marcadas para sempre, mas na hora de lançar o disco o que importa são as canções. Mas é claro que ouvir elogios de pessoas com tanta experiência e talento dá uma certa calma.

Estão a planear apresentar o Continuidade dos Parques também fora do Brasil?

O que mais queremos é apresentar nossa música para o máximo de pessoas possível, e tocar em outros países faz parte de nossos planos (e sonhos).

Claro que é tudo muito recente, mas já há algum plano para um próximo trabalho?

Ainda não estamos pensando no segundo disco, mas nunca paramos de compor. Essa é uma característica forte da banda, estamos sempre experimentando.
Matheus Maneschy
matheusmaneschy@gmail.com

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