ENTREVISTAS
Martinêz (Matarroa)
Há uma nova editora consagrada ao hip-hop em português
· 31 Jul 2003 · 08:00 ·
Há uma nova editora consagrada ao hip-hop em português. Conversámos repentinamente com Martinêz, pai da Matarroa e membro dos MatoZoo, um dos mais antigos grupos nacionais do género.
O que pretende ser a Matarroa? Para onde quer ir?

Pretende divulgar música nas áreas mais alternativas do hip-hop português, nomeadamente artistas que de outra forma não conseguiriam chegar ao público.

Quer dizer que se eu te mandar uma maqueta e tu gostares...

Exactamente, quero receber maquetas – mas só edito se gostar.

Já sentes algum impacto a esse nível? Tens recebido maquetas, ou a Matarroa ainda vai sendo um segredo bem guardado?

Vou recebendo, pode dizer-se que bastantes... talvez tenha recebido umas dez, até agora. Alguns desses projectos que recebi participarão na compilação a lançar em Setembro, o que é bom sinal.

Achas que encontrarás em algum desses projectos uma aposta firme para futuras edições individuais?

É bem possível que sim, a questão essencial centra-se até mais noutro aspecto: projectos com pernas para andar, com qualidade, há; agora, eu procuro coisas que fujam ao standard, e isso é que é mais difícil. A nova geração cresce com as mesmas influências e a “velha” já está ligada a algum projecto editorial... restam algumas pérolas.

Já editaste discos do VRZ e do Fidbek. Dois exemplos disso que referes?

Sim, penso que o podes ver dessa forma. Contudo, convém referir o facto de eu já conhecer o VRZ e o seu trabalho há muito tempo... e o Fidbek pertence à minha banda. Seja como for, para o grande público eram de facto desconhecidos.

Como está a ser a aceitação do público? Os vossos eventos têm sido concorridos?

Depende... do meu ponto de vista basta ter qualidade, mas na verdade existe um misterioso afastamento do público a nível nacional em relação aos concertos, quer sejam nacionais ou estrangeiros. Em termos de vendas, nunca se consumiu tanto hip-hop como agora; aí está tudo bem e nós vamos andando, embora o facto de os discos ainda não terem chegado às FNAC’s prejudique um pouco. Por outro lado, as vendas online surpreenderam-me pela positiva.

É corrente os projectos de menor dimensão terem essas dificuldades em relação aos concertos – ou vai pouca gente, ou vão sempre os mesmos...

Mas cá em Portugal tem sido mau a todos os níveis, com J-Live, Blackalicious, mesmo De La Soul... é estranho. Nunca houve tanta oferta. Mantenho a minha, os putos gastam mais dinheiro em roupa e droga. Também já houve mais união entre os projectos nacionais, sem dúvida nenhuma. Às vezes passo noites a discutir isto e nunca se conclui rigorosamente nada...

Como está a questão da distribuição? Está a ser fácil disponibilizar os cd’s em sítios apetecíveis?

Estou à espera da FNAC, de resto temos discos em lojas de música de todo o país. Relativamente ao apetecível... não quero ver os nossos discos no Continente e afins [risos].

Promoção – o primeiro teledisco já seguiu para as TV’s...

É verdade, esta semana. Talvez para a próxima já haja novidades...

Será que passa na MTV...?

[risos] Sinceramente nem pensei neles, gostava de o ver na Sol e na SIC... a MTV é-me indiferente.

Queres fazer um balanço destas primeiros meses da Matarroa?

Bom, o meu grande objectivo é tornar a editora independente em termos financeiros, torná-la autosuficiente – como não sou profissional e tenho encargos pessoais mais importantes, isso é fundamental. É sempre complicado quando não fazemos isto com 100% de disponibilidade, mas julgo ser necessário um projecto assim.

Eu acho que a editora surge no momento certo, há uma abertura cada vez maior ao hip-hop, por parte do grande público... trata-se quase do preenchimento de uma lacuna.

Interessa-me muito o público que não é especificamente fã de hip-hop. O público de música independente... rock alternativo, por exemplo – gostava de os cativar, a mentalidade é parecida. Acredito que a meio da ponte, há um ponto de encontro.

Apesar de tudo, continua a haver um certo “fechar de portas” por parte de uma facção mais conservadora do hip-hop. Será que é castrador, ou é uma forma de preservar a identidade do género?

Acho que foi importante na altura em que ninguém queria saber, agora só os miúdos o fazem e é por falta de informação, ou outras condicionantes... sociais, por exemplo. Mas a nível de produção, continua a existir o estereotipo “só samplo funk, soul e blues”, daí eu achar tudo muito igual por cá.

Como está a vossa agenda para os tempos mais próximos?

Vamos lançar a tal compilação de que falei há pouco, que apresentará alguns dos nossos projectos para 2004, e seguir-se-á o segundo disco dos MatoZoo, “Funk Matarroês”. Espero tocar em Espanha, na Galiza, ainda em Agosto, e na Guarda em Setembro – não sei se teremos a compilação pronta a tempo, mas agradava-me fazer o lançamento na Guarda. Setembro também será a altura do Fidbek e do VRZ tocarem nas FNAC’s.

Carlos Costa

Parceiros