DISCOS
The Mountain Goats
Get Lonely
· 13 Nov 2006 · 08:00 ·
The Mountain Goats
Get Lonely
2006
4AD / Pop Stock!


Sítios oficiais:
- The Mountain Goats
- 4AD
- Pop Stock!
The Mountain Goats
Get Lonely
2006
4AD / Pop Stock!


Sítios oficiais:
- The Mountain Goats
- 4AD
- Pop Stock!
John Darnielle tinha saudades da mulher e imaginou um mundo onde ela o tinha abandonado. Se encontrarem algo mais bonito este ano, por favor, avisem.
Cara mulher,

Sinto tantas saudades tuas. Estar em tournée por aí sem ti é tão difícil. Adorava que pudesses vir, como faziam os gajos do hair-metal. Lembras-te dos anos 80? Eles tinham espaço nos autocarros para as mulheres, para as amantes e para as groupies (não sei se sabes, mas eles pagavam às groupies pois, como deves saber, nenhuma mulher gosta de homens com aquele tipo de cabelo - e, por falar em cabelo, precisamos de conversar). Mas eu não. Eu sou um indie-rocker, pagam-me muito pouco e não tenho meios de transporte muito bons. Estar sem ti é muito mau. Todos os dias acordo e tenho ao meu lado o resto da banda. Tenho de ficar em camas de casal com eles, de vez em quando. Isto do indie rock não paga muito, a não ser que faça parte dos Shins. O que é que achas de eu pedir aos tipos para me juntar a eles? Pois, também acho que não. Vou continuar com os Mountain Goats. Adorava acordar e ver o teu sorriso, quando estás de lado, com a cara meio enfiada na almofada. É a coisa mais bonita do mundo. Mas não, tenho de ver o raio do violoncelista. Nem sei bem o nome dele. Escrevi-te um disco. Como sabes, o meu disco anterior, o The Sunset Tree, era sobre a minha relação com o meu padrasto. Tanta gente respondeu a ele tão bem. É uma história redentora, triste, mas com um final algo feliz. Isso fez de mim quem eu sou hoje. Para este Get Lonely, que comecei a escrever porque estar sem ti é tão mau, decidi escrever de uma forma diferente. Agora já não conto histórias, na minha forma de despejar histórias normal. Sou uma personagem, uma personagem que foi abandonada. Que está triste, só. Tu não me abandonaste, continuas aí à minha espera, mas é mais fácil dizer às pessoas que não. Porque isto é difícil, mas há quem não compreenda. A saudade é uma coisa complicada. Tão complicada que na minha língua nem existe uma palavra específica para ela. Sou uma pessoa abandonada, se acreditarem nas minhas canções. Até sou. Mas não dessa forma. Tu não me deixaste. Mas eu não sei o que fazer. Desde as primeiras notas esparsas de piano, com a minha guitarra e a percussão, começo a cantar a minha dor num falsete esforçado mas delicioso. “I leave the house as soon is gets light outside”, canto, e só penso em ti. No teu sorriso, pá, o teu sorriso... Há partes que são mesmo verdade. Acho que vou gostar de ouvir este disco contigo (sou muito egocêntrico, adoro os meus discos todos desde o Tallahasee, para o que vem antes não tenho grande paciência). Mas quando eu canto “Can’t get you out of my head, lost without you, half dead” na melhor canção assumidamente pop que já escrevi em toda a minha vida, é mesmo verdade. Não que me tenhas abanadonado, mas é só não estares aqui. Não acordares perto de mim. É sobre isso que é “Woke Up New”. “On the morning when I woke up without you for the first time, I felt free and I felt lonely and I felt scared”, canto eu, e o violencelo complementa tudo tão bem. Por falar nisso, fiz um vídeo para essa canção. Era sobre isso que queria falar contigo há bocado. É sobre o meu cabelo. Fiz algo estranho ao cabelo. Não sei se vais gostar, mas lembras-te do cabelo do Keanu Reeves há para aí dez anos? É pior. Nem sei o que é. Desculpa, prometo cortá-lo quando voltar para ti. Vêm-me lágrimas aos olhos sempre que toco e canto “Get Lonely”, a canção-título. É a desolação total de estar sozinho, sem ti. “And I will get lonely and gasp for air”, engasgo-me sempre que penso que não estás aqui. Mas depois lembro-me do teu sorriso...o teu sorriso. Tenho espasmos de alegria momentânea. É como se estivesses a meu lado, mas não estás. E eu fico sozinho. É só a minha guitarra, depois entra o violencelo no refrão e enche tudo. É tudo suave, baixinho, triste. Não sei se gosto assim tanto dos sopros que pus em “If You See Light”, nem da bateria, mas funciona, estranhamente. Ouço o meu disco vezes sem conta e penso em ti. E isso é bom. Mas é uma boa experiência, isto ouve-se muito bem. Talvez as outras pessoas não o compreendam como eu, mas é sobre ti e é isso que interessa. Não é o meu melhor disco, ou talvez seja. É o meu disco favorito de todos os que eu fiz. Mas os artistas dizem isso. Do Scarface aos Mastodon, alguns dos meus artistas favoritos. Trouxe discos deles para me aquecerem à noite nesta tournée sem ti. Já disse que choro por não estares cá mas também choro um bocadinho por o Scarface se ter reformado? “Dream at night, girl with the cobra tattoo”, canto eu, num bom refrão.

E sonha à noite, rapariga com a tatuagem de uma cobra.

Amo-te e sinto a tua falta,
Intensamente,
John Darnielle
Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net
RELACIONADO / The Mountain Goats