DISCOS
The Plot to Blow Up the Eiffel Tower
Love in the Fascist Brothel
· 01 Mai 2005 · 08:00 ·
The Plot to Blow Up the Eiffel Tower
Love in the Fascist Brothel
2005
Revelation


Sítios oficiais:
- The Plot to Blow Up the Eiffel Tower
- Revelation
The Plot to Blow Up the Eiffel Tower
Love in the Fascist Brothel
2005
Revelation


Sítios oficiais:
- The Plot to Blow Up the Eiffel Tower
- Revelation
Tenho a certeza de que os tabloids britânicos salivam na expectativa de uma idiotice como aquela que levou o Príncipe Harry – rufia de sangue azul – a trajar uniforme Nazi num baile de máscaras. Neste caso, tal como no que vos trago, prende-se o problema com uma interpretação literal da teatralidade, enquanto instrumento favorável ao choque e provocação. O rock, aliás, vive à sombra da teatralidade desde que Ozzy Osbourne se auto-entitulou de Príncipe das Trevas. Tal tendência veio a conhecer efeitos espalhafatosos nos Kiss e encontra hoje continuidade nos itinerários circenses que Marylin Manson ou os Rammstein fazem desfilar pelo mundo inteiro. The Plot to Blow Up the Eiffel Tower (ufa!) representam mais que uma parafernal ameaça, ainda que, além de muita parra, não disponham de muito mais para oferecer do que alguns bagos explosivos.

A turma incendiária - proveniente de San Diego - percorre actualmente o continente europeu envolta numa polémica que, face ao visual com reminiscências nazis, divide ofendidos e ofensores. Isto porque, em palco, os arruaceiros não abdicam de envergar braçadeiras vermelhas e brancas. O grafismo de Love in the Fascist Brothel também não ajuda muito e contribui para a suspeição (e conspiração).

Proceda-se a vistoria de casos semelhantes. Os Melvins, por exemplo, incluem o símbolo da brigada SS-Totenkopf em alguns dos seus discos e não é por isso que deixam de ser merecedores do imenso respeito que a sua digníssima carreira lhes vale. Não me parece que Jello Biafra – o autor do emblemático hino “Nazi punks fuck off” – apreciasse ver o seu nome associado à extrema direita, daí que tenha lançado recentemente um disco em parceria com os Melvins. Sabbath Bloody Sabbath (dos Black Sabbath, precisamente) ocultava no seu nome a sigla SS e não deixa de ser obrigatório. Os próprios Ramones parodiavam as tropas hitlerianas em “Today your love, tomorrow the world”, e associá-los a essa ideologia seria um absurdo. Da mesma forma que não devem ser levadas a sério as preces de Dr. Dre ou Ice-T (ou seja lá quem for) que suplicam pela extinção da raça branca. Pertence ao rock, enquanto arte primordial, ser sujo, intenso e, claro está, provocatoriamente fingidor ao ponto de afectar o estômago e criar úlceras. Agora que negociados os termos da farsa, estamos entendidos. Não será por aí que a música dos TPTBUTET se sujeita a ser desprezível.

Bem vistas as coisas, o plano para mandar a Torre Eiffel pelos ares acaba por estar directamente ligado ao semear de polémica e colheita de reacções negativas. É a energia resultante desse ciclo a que alimenta a locomotiva californiana – subversivamente contagiante e continuamente à beira do colapso nervoso. Os TPTBUTET lançam-se a cada faixa com a mesma convicção desmiolada dos participantes de Nunca Digas Banzai. Tratam de prolongar até onde a cacofonia permite a elasticidade do momento em que o ímpeto cede à dor. Ligeiramente mais comedidos em termos de ruído que os vizinhos Locust (gafanhoto em português) e geralmente mais abrasivos e dementes que os Blood Brothers, os TPTBUTET representam, sob a forma de Louva-a-Sangue, o bizarro meio-termo entre as duas bandas mencionadas. Pelos cortes que desferem no aparelho auditivo, torna-se claro que as dez faixas pertencentes a Love in the Fascist Brothel aspiram a abundante esguichar de sangue. “They throw mud, we throw blood” parece ser o lema do quarteto.

Como quem reivindica a distinção da restante praga de bandas, os TPTBUTET atiram-se de cabeça a fulminantes combustões “jazzísticas” (“Exile on Vain Street” faz arder os Campos Elísios no groove que lhe serve de conclusão), além de impregnarem de pompa militar grande parte do disco. Entre fumo negro e casualidades entre os instrumentos, demonstram ser capazes de condensar o que de mais bombástico têm em “Love in the Sex Prison”, raid madrugador cujo “riff” suado a ninguém poupa. Logo de seguida, “Vulture Kontrol” e “Rattus Uberalles” quase comprometem o sucesso do plano, dada a sua banalidade descomprometida. Os autores de Love in the Fascist Brothel revelam-se mais oportunos quando dispostos a arriscar tudo (a credibilidade junto de fãs, inclusive) ao depositarem uma fé cega na oposição entre o ácido e a melodia cadavérica, tal como acontece no ponto alto que é o delírio “Drake the Fake”.

Love in the Fascist Brothel vive das convulsões que provoca. Fracassa a cada vez que não destila um golpe certeiro, mas ao longo de toda a sua duração apresenta substanciais provas de que tudo fez para colocar quem escuta em cheque-mate. Tudo dependerá da imunidade e resistência à vertigem. Ainda não foi desta que a Torre Eiffel veio abaixo.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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