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Turbamulta
Turbamulta
· 04 Jul 2018 · 11:11 ·
Turbamulta
Turbamulta
2018
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Sítios oficiais:
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Quinteto explorador.
Primeiro chegou-nos a música a solo de Joana Sá. O primeiro contacto chegou com o “Elogio da Desordem” (2013, Shhpuma), o piano sozinho, original e desafiante. Depois juntou-se Luís José Martins, com a guitarra, e nasceu o duo Almost a Song. Da experiência dos Deolinda, Martins trouxe o dedilhar aportuguesado da guitarra, a vontade de aventurar em caminhos novos, entrelaçando guitarra e piano num improvável e surpreendente diálogo (disco homónimo “Almost a Song”, 2013). Com a harpa de Eduardo Raon o projecto evoluiu para Powertrio, tendo esse encontro ficado registado no disco “Di Lontan”, de 2015 (novamente edição Shhpuma). E agora, com o acrescento de dois novos músicos, Luís André Ferreira (violoncelo) e Nuno Aroso (percussão), evolui-se para quinteto.

O novo grupo chama-se Turbamulta. O dicionário diz-nos que “turbamulta” tem como significado “grande número de gente reunida” ou “grande número de gente desordenada ou em tumulto”. Estranhamente, este disco não nos mostra gente desordenada ou em tumulto, mas antes um grupo a articular um encontro instrumental original. Por vezes há conflito, sim, e há espaço para o desencontro, o que também é natural. Mas há sobretudo uma comunicação precisa e um entendimento milimétrico. Turbamulta é assim um quinteto que se serve da improvisação, mas trabalha-a de uma forma original.

Afastada das típicas estratégias musicais adoptadas pela “free improv” (assentes no choque, conflito e crescendos de energia), a música do quinteto assenta na escuta atenta, na articulação entre todos os elementos musicais com sobriedade, sem sobressalto, com subtileza. Tendo ao centro o diálogo entre o piano e a guitarra acústica, numa toada clássica, a harpa acrescenta novos tons, o violoncelo evoca ambiente clássico, a percussão chama à terra, e sobram uns pozinhos (modernos) da electrónica. O quinteto absorve os elementos individuais nesta massa sonora, desenvolve uma mescla de linguagens, onde cada elemento acrescenta a sua particularidade, enriquecendo o som global: espinhoso e belo.

O disco divide-se em quatro momentos: uma primeira suite em três partes [“(Like a mast, an arm, a head)”], um segundo tema simples (“O exagero minúsculo”), uma suite em duas partes (“And they would stumble upon some figure”) e o tema final (“In holes”). Cada tema evolui de forma tranquila, assente num perfeito equilíbrio de comunicação instrumental. Da forma como o quinteto interage, contribuindo com ideias e sem atropelos, resulta uma música caracterizada pela absoluta originalidade.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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