Em 2001, o super-projecto Lovage - Dan The Automator, Mike Patton, Jennifer Charles, Kid Koala e Brandon Arnovick - editava aquele que veio a ser o seu único álbum de estúdio, Music To Make Love To Your Old Lady By, tratado hip-hop sobre a sedução, a sensualidade e a meiguice que brilha nos olhos de amado e amante. Ouça-se, por exemplo, a sua magnífica versão de "Sex (I'm A)", dos Berlin, onde o gemido é quase uma melodia em si, como o foi em "Je T'Aime Moi Non Plus" ou "French Kiss". Isto para dizer que pinar é fixe e não merece castigo. É, aliás, recomendado.

Dezassete anos depois, o artista conhecido como dB, um dos homens fortes do Conjunto Corona e 50% do mega-êxito indie "Cara De Chewbacca", e que aqui assina David Bruno, dispôs-se a fazer um álbum que poderá ser visto como a resposta nortenha aos Lovage. Mas, em vez de querer fazer amor com a sua velhota, David Bruno quer fazer amor com a sua senhora. E, evidentemente, sem esquecer o romantismo - está tudo explicado em "Mesa Para Dois No Carpa", tema que enumera alguns dos maiores ex libris para apaixonados da cidade de Vila Nova de Gaia.

Cidade essa que é a senhora de que se fala. O alvo da paixão de David Bruno, n'O Último Tango Em Mafamude, não é uma mulher de carne e osso mas sim a própria Vila Nova de Gaia, terra de diabos, de canelas, de ninjas e de Menezes. Gaia, ponto de partida para toda uma viagem nostálgica pelos anos 80 e 90 de um Portugal livremente parolo ou parolamente livre, com as televendas a rodar em loop e empreiteiros de todas as freguesias a encher os bolsos. Gaia, Vila Nova, que é para David Bruno a melhor cidade do mundo, mesmo que esta o descarte por complete e o obrigue a ir viver em (argh!) Rio Tinto...

O Último Tango Em Mafamude pode não ter tanta graça - ou ser tão sonoramente impecável - como o trabalho que dB faz no Conjunto Corona, que muito provavelmente será a bitola pela qual o iremos passar a avaliar (ainda para mais depois do genial Cimo De Vila Velvet Cantina), mas quem aprecia uma boa paródia, muito melhorada através da sua versão vídeo-álbum, e uma mão cheia de belos beats encontrará aqui mais um motivo para estar bem atento ao hip-hop que se faz para lá do Tejo. É o equivalente auditivo aos vídeos intitulados 30 Seconds To Fap, excepto que dura 30 minutos. E é também um grandioso motivo para gostarmos (ainda mais) de Gaia.