DISCOS
Castello Branco
Sintoma
· 17 Nov 2017 · 21:26 ·
Castello Branco
Sintoma
2017
Ed. de Autor


Sítios oficiais:
- Castello Branco
Castello Branco
Sintoma
2017
Ed. de Autor


Sítios oficiais:
- Castello Branco
A mesma alma, num novo corpo.
Algures em 2013 o disco chegou à internet sem aviso. Um tal de Serviço assinado por um tal de Castello Branco com uma tal história de reclusão de um mosteiro - uma daquelas coisas que costumamos ler apenas nos livros. Lá dentro, duas mãos cheias de canções carregadas de espiritualidade (seja lá o que isso for para cada qual) e uma certa magia no ar. E a confirmação: a música brasileira tinha dado à luz mais um nome para ter debaixo de olho.

E depois os anos foram passando. Foram quatro ao todo. E nestas coisas parece uma eternidade. Nestes tempos de furiosa e imperdoável velocidade, 1460 dias é uma vida inteira. Mas a espera terminou. E terminou com Sintoma, um disco de ufolclore - termo baptizado pelo próprio – que procura romper essa temível barreira do segundo disco.

Mas, ufolcore? Sim, porque as canções de Sintoma viajam por uma folk com traços marcadamente electrónicos sem que nunca se perca o “som brasileiro” nos seus ritmos e nas suas cores. A alma de Sintoma é a mesma de Serviço, diga-se, a roupagem é que é outra. No centro de tudo está o mesmo Castello Branco, a tentar, da forma que lhe é possível, lidar com as dores do existencialismo e do amor através da poesia.

Sintoma tem alguns destaques naturais: “Não Me Confunda” e “Cara a Cara” são canções pop de peito cheio e arranjos certeiros. São singles naturais. E depois há momentos de um lirismo notável, como “Nascer Do Sômm”, com Filipe Catto, ou “Evidente”, senhora de uma doce melancolia arrastada à força por uma flauta fugidia e bela. E ainda sobram sete momentos de fantasia e encanto.

Sintoma é um disco de ritmo e de palavra – e do balanço entre ambas. É fruto de um desejo de mudança, de um sonho. O sonho que o Castello Branco da capa, na altura com tenra idade, nem sabia ainda que tinha. Não era fácil chegar ao sucessor de Serviço mas Castello Branco conseguiu-o, renovando o seu som sem nunca o descaracterizar, dando-lhe um novo corpo. Assumindo um passo em frente rumo ao seu próprio entendimento, Castello Branco criou um livro em aberto onde possamos nele ver também o nosso reflexo.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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