Crescer é uma actividade que se desenrola num abrir e fechar de olhos. Olhe-se para o caso de Chinaskee: de uma série de EPs e canções soltas escritas e gravadas no quarto, a solo, saltou imediatamente para um contexto de banda, absorvendo ideias e influências, talhando a sua arte para que esta se apresentasse mais polida, lúcida. Até mesmo mais adulta, mesmo que mantenha - e ainda bem - uma certa agitação teen, essencial para que as canções batam como o fazem.

Cheiramos "Odor": fuzz e teclados a abrir, toada leve psicadélica logo depois. Uma voz autofágica sobe acima dos instrumentos e canta o amor e o sexo. Poderia continuar por aqui, mas não: "Dia De Praia" recupera os tempos mornos da juventude, deixando bem expresso este binómio adolescência/velhice que é notado ao longo de Malmequeres (sendo que a conclusão é a de alguém só é verdadeiramente feliz se conseguir manter essas duas facetas de si ao longo da sua vida). E se dúvidas existissem sobre a versatilidade da coisa, "Assim Assim" termina com um belo momento ska...

Não haverá "Má Água" (nem duas, nem três, esta última escondida) que retire a vontade de parar para cheirar estes Malmequeres, disco no qual Chinaskee e seus Camponeses voltaram a colocar um capítulo na história agora interminável do bom pop/rock feito em Portugal. Porque está lá tudo: melodias fortes, guitarras sedentas e sábias e palavras capazes de eclodir na cabeça a qualquer momento. Ou seja, tudo o que se pode pedir num álbum que ajude a sossegar o espírito.