DISCOS
Mimimic
Stained Glass
· 27 Set 2016 · 16:44 ·
Mimimic
Stained Glass
2016
Ed. de Autor


Sítios oficiais:
- Mimimic
Mimimic
Stained Glass
2016
Ed. de Autor


Sítios oficiais:
- Mimimic
Psicadelismo cintilante.
O psicadelismo pode estar na ordem do dia, mas parece provir, única e exclusivamente, das guitarras e das bandas que as utilizam. Não que isso esteja errado per se. O problema é que há inúmeras formas de se ser "psicadélico" - veja-se os Tangerine Dream, o acid house, os delírios paranóicos dos Boards of Canada. A moda, que o é, afecta apenas os junkies da electricidade e esquece os que viajam a bordo de um sintetizador... Sendo também por isso que gerou projectos atrás de projectos, artistas atrás de artistas, todos eles infelizmente iguais aos demais.

Stained Glass, álbum de estreia de Mimimic (o alter ego de Diogo Carneiro, ex-Iconoclasts), soa por isso a uma pedrada no charco, mesmo que não seja, concretamente, algo de novo; simplesmente, bebeu esse psicadelismo de fontes diferentes. E ainda bem. Evitando a fotocópia, Stained Glass é sinal de que, independentemente da força do hype, será sempre possível fugir-lhe - revelando-se Mimimic como uma das propostas mais interessantes da "cena" actual, psicadélica ou não.

E nem sequer foi preciso rasgar de vez com o rock n' roll; também há aqui cordas, batimentos lo-fi, uma atmosfera kraut menos cósmica e mais rítmica, mas o que há sobretudo é o calor dos sintetizadores e destas melodias especialmente talhadas para as hazy ou lazy afternoons em que só nos apetece estender uma toalha e procrastinar. É tanto uma viagem rumo a novas possibilidades como uma visita ao nosso interior adormecido. "Sun Creeping" dá o mote, faz-nos as malas, transporta-nos de graça para onde quisermos. "I Have Never" abre as portas, com o groove aquático a mostrar-nos o quão longa é a estrada...

À medida que atravessamos a hora que constitui Stained Glass ficamos cada vez mais convencidos: este é um álbum essencial na medida em que mostra novas possibilidades para a música psicadélica que não caiam no facilitismo. É dança: "Oh Jeez Oh Man" ficaria bem em qualquer pista. É cerebral, como tão bem explica "Brainial Stimulation". E também é humor, presente no sample facilmente identificável de "Will Always Love". Numa época em que todos parecem querer o mesmo, a ambição de Stained Glass já o torna num vencedor.
Paulo CecĂ­lio
pauloandrececilio@gmail.com
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