DISCOS
Mike El Nite
O Justiceiro
· 11 Jul 2016 · 15:28 ·
Mike El Nite
O Justiceiro
2016
NOS Discos


Sítios oficiais:
- Mike El Nite
- NOS Discos
Mike El Nite
O Justiceiro
2016
NOS Discos


Sítios oficiais:
- Mike El Nite
- NOS Discos
Trapzinho Pensador.
O mundo de Mike El Nite não é de carros retro-fantásticos, como a personagem sua quase-homónima. Nem de blusões de cabedal e cabelos encaracolados. Todavia, é um mundo com uma coerência estrutural à prova de balas, sem exigir qualquer “suspensão de descrença”, apesar do booklet a imitar o painel do Kitt ser um toque bem engraçado. Consegue-o graças a três elementos vitais. A sua habilidade para a rima, a sua destreza como “cuspidor” das mesmas, e a colaboração preciosa do seu produtor Dwarf. ”O Justiceiro” torna-se, assim, num disco altamente cativante, quer no lado lírico, quer no lado instrumental, provando que o MC de Telheiras tem potencial para construir uma carreira após as músicas que inicialmente chamaram a atenção para o seu talento.

Se é certo que ”O Justiceiro” habita de pés firmes na zona do trap, Mike El Nite e Dwarf não se limitam aos tiques (pun intended) do género. O trap do álbum é de índole surreal, como que pertencesse a um sonho acordado. Menos ”in your face” que ”in your mind”. Os sons parecem inverter a direcção, arrastando-nos consigo a cada ressoar do bombo. E Mike dá asas à sua versatilidade como MC, mostrando-se perfeitamente à vontade em flow normal, double-time, ou pára-arranca, exibindo um óptimo controle das palavras e dicção. Liricamente, escolhe temáticas sobretudo pessoais, conforme o single “Horizontes” deixou antever, ao falar da sua vontade de ver para lá do que lhe era impingido em normais circunstâncias. Veja-se outros casos como “Água Fria”. Onde no EP ”Vaporetto Titano” falava em andar de bicicleta, aqui fala em beber 2 litros de água por dia. “2P”, essa, usa o seu amor por jogos de consola para criar uma série de analogias sexuais. Analogias e punchlines são coisas em que se sente como peixe na água (“Astrorec City, bitch”), permitindo que um sorriso nunca esteja longe da boca do ouvinte.

A ritualista “T.U.G.A.” leva-nos para um portal escondido num canto qualquer de uma floresta, iluminado por strobes de tonalidades irreais. “Santa Maria” fala de um amor difícil, e, por incrível que pareça, usa eficazmente elementos da insuportável banda eurodance portuguesa do mesmo nome. “Cena do Ódio 3.0.” é “apenas” uma declamação anti-maldizentes. Mas suponho que deixaria Adolfo Luxúria Canibal orgulhoso de tal destilar. Mike leva 4 minutos e meio do seu tempo a deitar os haters abaixo. Nos restantes 47 minutos, permite-nos jogar a Being Mike El Nite. E isso, para já, entra no rol das promessas confirmadas. ”O Justiceiro” é um fincar de pés com estrondo no campo do hiphop feito em Portugal. Brindemos a ele – mesmo que com água fria.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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