DISCOS
Bookworms
Xenophobe
· 31 Mai 2016 · 15:00 ·
Bookworms
Xenophobe
2016
BANK Records NYC


Sítios oficiais:
- Bookworms
- BANK Records NYC
Bookworms
Xenophobe
2016
BANK Records NYC


Sítios oficiais:
- Bookworms
- BANK Records NYC
O poder da recriação por recreação.
Neste disco de estreia de Bookworms nada há que se compare à invenção da roda. Nik Dawson não inventa o techno. Ou a house. Ou o industrial. Ou o drone. Ou o abstracto. Ou a ambiguidade. Antes dele, muitos já palmilharam o espaço onde ele cria a sua música. "Já está tudo inventado", dizem amiúde os mais velhos, já saturados de todos os sons (menos das antiguidades que lhes marcaram a juventude). Muita da novidade da música dos nossos dias (e à semelhança do antigamente) resume-se à transformação: cada nova música deve algo a anteriores. Tudo se cria, recriando por recreação, tentando-se encontrar novos pontos de vista. E cada geração fá-lo remexendo a matéria que outros génios deixaram como herança.

Xenophobe. Sim, xenofobia: aversão aos estrangeiros, ao que vem do estrangeiro, ou ao que é estranho ou menos comum – diz o dicionário da Porto Editora. Contentemo-nos no estranho ou menos comum. E este disco é isso: estranho; menos comum. É house e techno – admiravelmente abstracto. Uma revoltada sopa de ideias. Complexo. Ambíguo pela bipolaridade: Xenophobe tem energia positiva e negativa: os primeiros temas são extrovertidos, libertadores, niilistas; e depois acontece “STE-027” – aquele determinante momento de transformação, perigoso se não houver ponderação no recurso que se dá às ferramentas narrativas.

Os dezoito minutos de “STE-027” provocam obsessão e opressão. E o ambiente daí em diante nunca mais volta a ser o mesmo – é como num filme, qual reviravolta, descobrimos que o nosso herói na verdade é o filho da puta do vilão (e adoramos a ideia). Desse tema em diante, um crescente sufoco – a ambiência drone do último tema (claustrofóbico!) extermina todas as ilusões de voltarmos a ver a luz do dia. Xenophobe arrasta-nos para a escuridão. Cada vez mais. E deixamo-nos ir. As ferramentas que Bookworms usa para construir este poderoso disco há muito que foram inventadas. Mas a música de Nik Dawson também mostra que, lá por não haver absoluta originalidade, tal implique uma rendição à ordinariedade. Há sempre mais um ângulo por explorar. Um disco ousado.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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