Será redundante hoje confrontar a capa com a música – de algum modo comparar o papel do embrulho com o que o embrulho encerra? Numa imagem a preto e branco onde um cume coberto de neve (talvez a lembrar o pico do Evereste) sobressai majestoso numa extensa paisagem onde no horizonte a terra e o céu roçam a eternidade, não deixa de ser pertinente interrogarmo-nos sobre o escopo da música com que nos iremos deparar. Numa era em que a música tem vindo a perder o rosto, em que toda ela cada vez mais vive compactada em smartphones e leitores de MP3, só o melómano dará ainda importância à ilustração da primeira página na hora de adjectivar a obra no seu todo?

A imagem antes descrita corresponde à capa de Shred, o disco de estreia de Skee Mask. E ela é imediata a representar o universo sonoro onde este misterioso produtor alemão se movimenta: falamos de música planante, fantasiosa, contemplativa, mas também fria, agreste, soturna. Mas existe harmonia nos vários contrastes anímicos neste disco techno de forte pendor ambiental. Skee Mask expõe Shred como resultado de uma viagem intrínseca num lugar espaçoso, nunca revelando, contudo, qualquer preconceito por ter optado documentar as diversas divagações a preto e branco.

As paletas a que Skee Mask recorre para dar forma ao seu universo são diminutas. Ele é amiúde parco nos recursos mas jamais minimalista. Basicamente falamos de texturas rítmicas entre um breakbeat de 90 que o tempo distorceu e um techno que evita o mais que pode o padrão 4x4 em contraste com uma eloquente verve melódica extraída do mesmo poço que saciou os desejos de muitos dos pioneiros do IDM que a Warp endeusou há mais de vinte anos. Não será de forma alguma redutor afirmar que Skee Mask se movimenta no mesmo espaço de Shed, Marcel Dettmann, ou outros nomes da Ostgut Ton. Mas com Shred é evidente que o produtor tem o seu cantinho – e ele é tão vasto e convidativo quanto a belíssima capa sugere.