DISCOS
Boris
Noise
· 13 Nov 2014 · 10:31 ·
Boris
Noise
2014
Daymare Recordings


Sítios oficiais:
- Boris
- Daymare Recordings
Boris
Noise
2014
Daymare Recordings


Sítios oficiais:
- Boris
- Daymare Recordings
Em grande forma. Mais uma vez.
Perante todos aqueles que não dispensam um bom rótulo, os Boris deverão ser a banda mais trabalhosa de sempre. Ao longo de mais de vinte anos de carreira e outros tantos registos discográficos, o trio japonês nunca encarou a música que fazem como algo estanque, ou que deva ser estanque. A palavra de ordem, desde o momento zero, da camada drone de Absolutego a este novo Noise, tem sido sobretudo o experimentar. Estes joguinhos de estúdio-laboratório, a redacção de novas e novas fórmulas, não têm gerado absolutamente nada maus resultados: o primeiro Heavy Rocks tornou-se um clássico do stoner de pleno direito, o gigante Pink elevou o fuzz à condição de mantra e até mesmo as incursões pela pop dançável de New Album não eram de se deitar fora - pelo menos eram orelhudas, como um boa canção desse género deverá ser.

Enquadremos os Boris naquele circuito de bandas que soam sempre diferentes de disco para disco, grupo onde poderemos colocar os The Fall, os Bad Seeds de Nick Cave, os Neubauten, os Radiohead ou até mesmo os Mão Morta; bandas que nunca tiveram receio de alienar a base que os acarinhou (e que no caso dos Boris será a do metal) e seguir novas direcções, traçar novos mapas no mundo imenso que cada qual representa. Bandas que conseguem vincar essas diferenças de uma forma tão surpreendente quanto facilmente reconhecível, já que no seio dessa tremenda esquizofrenia musical encontramos sempre uma identidade marcante. Noise é o décimo-nono longa-duração do trio de Wata, Atsuo e Takeshi. Com uma única audição, chegamos imediatamente à conclusão de que o que se ouve aqui é Borisiano. Com várias, sentimos a tentação de revelar este como o melhor disco da sua carreira, algo que acontece, regra geral, também com todas as bandas supracitadas.

Ao mesmo tempo que Noise rasga com aquilo que o precedeu, não renega um olhar ao passado. De facto, poderíamos encará-lo como uma espécie de compilação dos melhores momentos dos Boris: todos os caminhos que têm percorrido desde 1996 encontram-se aqui, num mesmo ponto. Noise enquanto Roma, portanto. Amplifier Worship, Heavy Rocks, Akuma No Uta, Pink, Smile, Präparat, tanto estes como dezenas de outros apontam Noise como o seu destino final. Mas que não se encare isto de uma forma fatalista. Seria absurdo pensar que depois de Noise, mesmo que este resuma perfeitamente os Boris enquanto banda, mesmo que o próprio título lhes assente de forma extraordinária, não existirá mais nada. É certo que o que seguirá será muito diferente. Se para melhor ou se para (ligeiramente) pior, ainda não sabemos.

Para já tenhamos Noise como aquilo que é: um disco extraordinário. Começando pelos pontos não tão fortes, teremos de indicar "Taiyo No Baka" como uma pseudo-carta fora do baralho, já que é o momento mais suave do disco na medida em que mais não é que uma óptima canção pop/rock, e soa desfasado de todo o peso que escutamos tanto antes de si como após. Peso esse que encontra o seu maior momento de delírio em "Heavy Rain", com a voz fragilmente assassina de Wata a ressoar no meio de um trovão imenso de sludge. Sem que possamos deixar de mencionar, evidentemente, "Melody" ou "Vanilla" a abrir-nos apressadamente a janela, o pós-rock de "Ghost Of Romance" a escancará-la antes do crime, e a rockalhada épica que dá pelo nome de "Angel", que nos transmite aquele arrepio na espinha quando a canção se parte ali por volta dos nove minutos e meio e traz consigo o fim do mundo na forma de Deus a dedicar-se ao headbanging. Por falar neste último: "Quicksilver" é como se o thrash houvesse ressuscitado. Seja qual for a forma que tomem, os Boris serão sempre uma centelha de genialidade escondida no meio das discussões sobre géneros. Noise é mais um exemplo disso. Um regresso à grande forma, um enorme disco de uma enorme banda. Nada mais. Mesmo nada menos.
Paulo CecĂ­lio
pauloandrececilio@gmail.com
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