DISCOS
milo
a toothpaste suburb
· 04 Nov 2014 · 17:55 ·
milo
a toothpaste suburb
2014
Hellfyre Club


Sítios oficiais:
- Hellfyre Club
milo
a toothpaste suburb
2014
Hellfyre Club


Sítios oficiais:
- Hellfyre Club
Uma estreia auspiciosa
Somos todos filhos de um subúrbio qualquer. Da Europa, da capital, da própria vida... E como filhos de um subúrbio cada vez mais vasto, estamos desencantados, sozinhos, aborrecidos e prestes a ceder à solidão e ao pessimismo. Em a toothpaste suburbs, milo é um pouco assim. Filho da periferia, produto da solidão e do desencanto, mas sóbrio o suficiente para transformar o que o rodeia em pequenas vinhetas, sem nunca ceder ao conformismo e à apatia.

Mas não deixa de ser curioso notar que esta luta não se faz sem boas perdas. toothpaste suburbs está longe de ser eufórico ou catártico, acabando antes por se deixar guiar pela melancolia que permeia todo o disco. E se essa melancolia é evidente na produção - excessivamente melódica quando tem que ser, e ominosa quase sempre -, ainda o consegue ser mais mais nas letras, que desfilam com a clareza necessária para nunca deixarmos de nos rever nelas.

Mais preocupado com a percepção do que com a rapidez, milo (actualmente a residir nessa meca que é Chicago) discursa num misto perfeito de stream of consciousness e spoken word, sempre ponderado e escorreito, para que não se percam refrões deliciosos como o de “Ought Implies” ("If i was a necromancer / I’d bring back Foster Wallace"), o incrível diálogo interno de Kool A.D. em “in gaol” (“I feel like leonard cohen and I don’t think I can even name one Leonard Cohen track / Is Leonard Cohen whack? / This is rethorical, no need to answer that”), ou as incontáveis referências populares - de Harry Potter a Schoppenhauer ou Avril Lavigne - que facilitam a nossa entrada neste desencantado mundo velho.

E se a escrita directa não chega, foquemo-nos nestes últimos instantes na produção por detrás deste disco. Entregue a uma mão cheia de produtores escolhidos a dedo, é um exemplo perfeito da eletrónica de trejeitos dançáveis ao serviço do hip-hop (vide “Peanut Butter Sandwiches”). E para lá da muita cor, a participação de iglooghost, Riley Lake, Greyhat, e Tastenothing funciona como um segundo elemento encarregue de dar corpo ao disco e contrariar a solidão que milo abraça naturalmente ao longo do álbum. Tudo sem deixar a voz perder o espaço que precisa para narrar esta história com o peso necessário para que todos façam parte deste subúrbio sem brilho.
António M. Silva
ant.matos.silva@gmail.com

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