DISCOS
The Men
Tomorrow's Hits
· 30 Abr 2014 · 18:24 ·
The Men
Tomorrow's Hits
2014
Sacred Bones


Sítios oficiais:
- Sacred Bones
The Men
Tomorrow's Hits
2014
Sacred Bones


Sítios oficiais:
- Sacred Bones
Aqui, nada bate duas vezes.
Haverá poucas bandas a quem a expressão “viagem” assente bem, mas os The Men podem bem ser uma delas. Falo tanto da viagem sónica que os dois primeiros discos oferecem, como da viagem turbulenta que foi aquele concerto na ZDB, mas principalmente à viagem quase cartográfica que a sua discografia continua a palmilhar. Longe vão os tempos feios, porcos e maus de Immaculada e Leave Home, ou o piscar de olho à tradição teutónica que ameaçava despontar em Open Your Heart. Em 2014 e ao quinto disco (que mantém a média de um disco por ano), os The Men viraram-se definitivamente para dentro (leia-se para o seu país) e isso sente-se bem em Tomorrow’s Hits.

A ideia não é nova e s músicas tingidas a country e folk, com um gosto profundo a americana, já tinham preenchido o anterior New Moon. Mas se aí ainda se ecoava alguma daquela sujidade que se falava acima, em Tomorrow’s Hits não há o mínimo sinal dela e a culpa talvez seja da produção - a mais limpa (e adulta?) até agora. A primeira metade do disco, mais lenta, introspectiva e harmoniosa, é aquela que ganha com esta nova direcção. “Dark Waltz” ou “Another Night” aproxima-os daquilo que seria um som de cartilha (há laivos de Neil Young ou Rolling Stones, por exemplo) que, apesar da apreciável (e irónica, se tivermos em conta o nome do disco) dose de nostalgia, soará sempre menos interessante e contagiosa que aquela raiva incontida nos primeiros discos.

É verdade que a segunda metade do disco também não tem uma “Bataille” que nos faça saltar da cadeira, mas tem uma tríade de temas que nos faz (re)descobrir a energia do quarteto. “Pearly Gates” (com um piano finalmente pertinente) ,“Settle Me Down” e principalmente “Going Down” recuperam a estética ruidosa e o fôlego hardcore de há quatro anos atrás, mas sem a abrasão que lhes invejávamos. Nem tudo é mau: se os The Men continuarem a alimentar a média invejável de um disco por ano, este Tomorrow’s Hits até pode vir a ser um elemento esquecível, mas pelo menos ajuda a que nunca lhes ouçamos dois discos iguais.
António M. Silva
ant.matos.silva@gmail.com
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