DISCOS
GENIUS / GZA
Liquid Swords [Reedição]
· 25 Out 2012 · 22:56 ·
GENIUS / GZA
Liquid Swords [Reedição]

Geffen 1995


Sítios oficiais:
- Geffen 1995
GENIUS / GZA
Liquid Swords [Reedição]

Geffen 1995


Sítios oficiais:
- Geffen 1995
Quando o Todo e as Partes eram de valor incalculável!
“Liquid Swords” é um Todo. Uma supernova onde os talentos que tinham criado o primeiro álbum do Wu-Tang Clan, e a série de álbuns a solo que, até ao momento, tinha atingido o clímax com “Only Built 4 Cuban Linx” de Raekwon, combinam rimas, beats, flow, produção e atmosfera para criar um mundo tão delineado e perfeito como qualquer Grand Theft Auto. Excepto que, aqui, não observamos um final decisivamente feliz. Vemos, isso sim, aquelas pequenas histórias que tornam certas zonas semi-perdidas das cidades num perfeito inferno trespassado pelo gelo invernal (“Cold World”, “Killah Hills 10304”). Sabemos que, custe o que custar, há que sobreviver (“Gold”). Que outros MCs perdem o seu tempo ao tentar combater a hierarquia (“Duel Of The Iron Mic”). E que não esperemos nada que não o relato frio e sangrento (“Investigative Reports”).

Os dias de 1995 eram dias de glória por parte de RZA, mentor e produtor dos Wu-Tang. Numa fase em que Nova Iorque estava em grande (Mobb Deep, “Illmatic” de Nas, Jeru The Damaja, Black Moon, etc), foi capaz de reduzir os sons sobre os quais se faziam as rimas a um baixo+bateria quais vapores de água a sair da boca numa noite de Dezembro. A estes juntavam-se pianos e orgãos que pingavam e dilaceravam como estalactites, mesmo em poucaas notas, loops de guitarra e os famosos samples de filmes de artes marciais e samurais. Podemos estar em qualquer estação do ano, que a vontade continua a ser a de vestir um anorak grosso. Fechamos os olhos, e estamos no meio do perigo, das conspirações, das traições e congeminações. E ainda falta o factor principal: GZA himself.

Desde “Enter The Wu-Tang (36 Chambers)” que havíamos percebido que cada um destes 9 MCs tinha personalidade para dar e vender. GZA não só a tinha, como trazia ainda mais. Mostrava, nomeadamente, ser um génio em termos de liricismo, tendo apenas Raekwon e Ghostface Killah como seus iguais no grupo (sem desprimor para os restantes). A sua capacidade para descrever os cenários que já referi anteriormente é comparável a um bom professor de matemática. “Liquid Swords” é frase memorável atrás de frase memorável. Convém ouvi-lo uma série de vezes, pois cada vez que por ele passamos, o quadro fica cada vez mais completo. Ajudado por muitos Wu-Tangs, GZA é rápido, mas claríssimo nas palavras, é mordaz e venenoso nas metáforas e comparações, e vívido como uma câmara super digital.

Enfim, passado é passado. E quando o passado é assim, há que agradecer quem nos tráz a hipótese de o redescobrir ou, assim espero, ser conhecido por muitos que não estiveram lá em 1995. Porque de clássicos assim não está o mundo cheio. “Liquid Swords” merece que todos os fãs de hiphop, seja quais forem as suas preferências actuais, o venham descobrir, e sorver cada palavra sua com o prazer de quem lê um bom livro ou de quem prova um bom vinho.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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