DISCOS
Chicago Underground Duo
Age of Energy
· 15 Out 2012 · 10:57 ·
Chicago Underground Duo
Age of Energy
2012
Northern Spy


Sítios oficiais:
- Chicago Underground Duo
- Northern Spy
Chicago Underground Duo
Age of Energy
2012
Northern Spy


Sítios oficiais:
- Chicago Underground Duo
- Northern Spy
Sdds Chicago anos 90.
Em meados dos anos 90 a cidade de Chicago era um fervilhante pólo de criatividade musical. Não só por via do efervescente pós-rock (Tortoise, Gastr del Sol, Jim O'Rourke, etc.), mas também por responsabilidade de figuras ligadas ao jazz, como o veterano Fred Anderson (que dinamizava o Velvet Lounge), Ken Vandermak (que começava já a solidificar uma carreira imparável) e um versátil Rob Mazurek, que se dividia em colaborações com inúmeros projectos.

Mazurek fundou um ambicioso ensemble, o Chicago Underground Orchestra, que depois se foi transformando em derivações mais pequenas: Chicago Underground Quartet, Trio e Duo – aqui reduzido na essência, duo entre Mazurek e o baterista Chad Taylor. Entretanto o cornetista foi trabalhando novos projectos – com destaque para o diabólico Mandarin Movie e a portentosa Exploding Star Orchestra - e, tendo-se mudado para o Brasil, criou aí um São Paulo Underground, deixando o projecto nascido (e nomeado) em Chicago num estado algo intermitente.

Este regresso do Chicago Underground não é apenas uma boa notícia por registar o retorno à sua origem. Mostra ainda que Mazurek continua com fome pelo desconhecido, quase deixando de lado o seu instrumento principal. O disco abre com um estranho feixe electrónico e uma voz processada, num murmúrio impercepível, que vai crescendo ao longo de quinze minutos, juntando-se depois uma percussão hipnótica/assombrada de Taylor.

A segunda faixa mantém a toada fantasmagórica: primeiro há uma voz que repete obsessivamente “it's alright”, lá para a frente é que Mazurek se aplica no trompete, mas com som processado, triturado em efeitos. Temos de chegar ao terceiro tema para encontrarmos um momento de maior luz. Chad Taylor, baterista extraordinaire, colaborador de músicos como Marc Ribot, Cooper-Moore ou Jeff Parker (e gravou recentemente o álbum A New Margin com Vandermark e Havard Wiik), surpreende aqui mais um pouco: dedilhando mbira (ou sanza), instrumento tradicional africano, abre espaço para uma intervenção mais límpida de Mazurek, que aplica aqui um fraseado aberto, que evolui para uma melodia plena de lirismo (pena o final demasiado cedo e em fade-out, já que apetecia continuar a sentir aquele registo melódico-narcótico).

O último tema é um corropio de brusquidão, percussão turbulenta, disparos de electrónica e entra depois Mazurek, mais truculento, numa música todos os elementos contribuem para uma atmosfera altamente poluída. Difícil, diverso, mesmo antagónico entre a natureza dos temas, este disco confirma que Mazurek e Taylor continuam imprevisíveis. Quase duas décadas passadas desde os tempos mais dourados da música em Chicago, alguns dos filhos da terra continuam a perseguir a originalidade como necessidade vital.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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