Atenção: este disco é uma reedição de algo nunca editado. Não soa bem? Explicando melhor, é um disco de há vinte anos atrás que só agora viu a luz da primeira edição original. Tudo porque a editora na altura não o quis editar. Os californianos Sleep já tinham lançado material antes, já se sabia o que a casa gastava, mas neste segundo a malta da burocracia e do dinheiro acharam que tinham ido longe demais. Graças a malta idêntica mas já de uma altura e que deixam Sunn O))) lançar discos, mais concretamente gente da Southern Lord, ei-lo, O DISCO, em todo o seu esplendor. Perdoem-me, por exemplo fãs dos Kyuss e Monster Magnet: a maior obra-prima stoner dos anos noventa se calhar nunca a ouviram. Agora já podem. Sim, é este disco dos Sleep. Poderão argumentar com a história do "ai não é porque não saiu". Ok, não saiu, mas a lenda não a deixou esquecer aos poucos entre bootlegs raros de encontrar. Alguns iluminados já o sabiam. Não era o meu caso. Eu ouvia Kyuss. Mais abaixo da fasquia eu gostei muito de Soundgarden. Acho um piadão aos japoneses Boris. Mas agora entendo quem sabia. Quem, pelo mundo fora, ouviu os pedacinhos que circularam durante duas décadas, pedaços do seu tema central, uma das razões porque a editora da altura não achou graça a esta música e melhor, achou impossível de comercializar: 60 minutos de uma só canção, a Anti-Canção. Boris quê?

"Drop out of life with bong in hand
Follow the smoke toward the riff-filled land
Proceeds the Weedian, Nazareth
(...)
Stoner Caravan emerge from sand sea
(...)
Raise up seer's Holy Prophecy
Lets down on years of sun now feeds
Seed of Eden fall on them ten fold
Onward Caravan prepare new bong"

Santa Marijuana rogai por nós, fumadores. Poesia no seu estado mais puro. Ouvir este Santo Graal redescoberto é entrar num rito THCristão ritualístico em tom de oração à planta sagrada que tanta felicidade traz aos terrestres que a honram, diária ou esporadicamente, num manifesto sonoro de riffs avant-Hendrix ressuscitado ao lado dos Black Sabbath e dos Blue Cheer claro, como stoner que é, mas já com a faísca do doom metal que imperava nos seus contemporâneos de noventas, embebido também no drone maquiavélico de experimentalistas como Earth e os maravilhosos Melvins dos primórdios. Música de atmosferas. Perigosas. 2012. Mais vale tarde do que nunca. Sleep. O nome engana, não faz dormir ninguém, pelo contrário acorda, acorda-nos a todos.