DISCOS
Amélia Muge
Uma Autora, 202 Canções
· 05 Fev 2010 · 22:37 ·
Amélia Muge
Uma Autora, 202 Canções
2009
Caracter Editora


Sítios oficiais:
- Amélia Muge
Amélia Muge
Uma Autora, 202 Canções
2009
Caracter Editora


Sítios oficiais:
- Amélia Muge
Cada disco da meteora Amélia Muge é um acontecimento, e temos agora oportunidade de os revisitar quase todos.
Na esfera celeste a que pertence, Amélia Muge é um desses cometas raros a rasgar com brilho a orbe da reinvenção da música tradicional portuguesa. Desde a edição de Múgica, em 1991, cada álbum seu é fervorosamente aclamado pela imprensa especializada e por um pequeno culto de anónimos fervorosos amelianos, gente reconhecida por uma idolatria mais própria da estrela pop do que da “autora-compositoraâ€. É essa a faceta de Amélia Muge que mais vem à tona neste Uma Autora, 202 Canções, uma revisitação da sua obra que colhe de todos os álbuns anteriores à excepção do mais recente Não Sou Daqui. Estão também incluídas canções compostas para outras vozes e ainda quatro originais.

Trata-se de um livro-disco, mais arrumado nas prateleiras das livrarias do que nos escaparates das lojas de discos. A natureza da obra torna quase natural que todas as letras-poemas sejam da própria Amélia Muge, mas as excepções que existem não são de nos apanhar de surpresa. Uma dessas excepções é o enormíssimo João Pedro Grabato Dias, o poeta mais presente em toda a obra da autora. Outra é Fernando Pessoa, igualmente fundamental no percurso da autora. “Nevoeiroâ€, o célebre poema de “Mensagemâ€, antes musicado em Todos os Dias, confirma-se nesta nova unidade estética como uma daquelas músicas capazes de se elevar numa carreira. Mas as letras de Amélia Muge são elas próprias tratados de poesia. “Coisa Assimâ€, antes interpretada por Mafalda Arnauth, tem uma letra surrealista de garbo humorístico, que já sobressaía no disco original: “Se eu morrer de amor por ti / Ai leva-me a enterrar / Dentro daquela careta / Que fizeste numa hora / Em que me estavas a olhar / E a rir te foste embora / E eu quase vi o meu fim / Se eu morrer ou coisa assim / Faz desse riso um cantar / Para te lembrares de mimâ€.

As novas roupagens, musicalmente trabalhadas por António José Martins e Filipe Raposo, não são isentas de objecções, mas esse é o risco de lidar com músicas carimbadas com o selo de definitivo. Os novos temas mostram uma Amélia Muge em grande forma, especialmente “Filme ainda sem genéricoâ€, o que quase bastaria para justificar esta edição. Nos agradecimentos, Amélia Muge dirige-se aos jornalistas, que lhe explicam porque continua a “trabalhar nisto tudo“ e não a “fazer outra coisa qualquer, mais fácil, mais barata e a dar milhõesâ€. Nós que podemos ouvir estas músicas, é que não nos devíamos sentir privilegiados por sermos tão poucos. Amélia Muge merecia uma audiência à altura da sua música inestimável.
Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net
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