DISCOS
The Fireman
Electric Arguments
· 18 Fev 2009 · 13:24 ·
The Fireman
Electric Arguments
2008
MPL / Flur


Sítios oficiais:
- The Fireman
- MPL
- Flur
The Fireman
Electric Arguments
2008
MPL / Flur


Sítios oficiais:
- The Fireman
- MPL
- Flur
Paul McCartney não falha quando se faz à estrada. Youth é o co-piloto ideal para que não falte manutenção a estas viagens.
Depois de tantas bandas contemporâneas terem tentado o seu Sgt. Pepper's,era perfeitamente legítimo que Paul Mccartney arriscasse também o seu Is this it. Mesmo que sejam residuais as semelhanças entre a estreia dos Strokes e a terceiro investida de Paul McCartney (e Youth) com a camuflagem The Fireman, ambos comportam o brio próprio dos discos que envolvem os mais agitados glóbulos vermelhos no processo. É verdade que o mundo almejado pelos Strokes é aquele que há muito se rendeu a McCartney, sendo que isso só torna mais surpreendente o rejuvenescimento que transparece em Electric Arguments. Habituado a uma rotina de canções e ao lado de um Youth presumivelmente capaz de concretizar o impossível, Paul McCartney fez com que a lei do menor esforço vigorasse em Electric Arguments. Em várias entrevistas, admitiu que as primeiras ideias surgidas acabavam por ser as utilizadas. Ao abrigo disso, Electric Arguments quase parece um lote de 13 lâmpadas acesas, entre as quais só 2 ou 3 se fundem com o desgaste.

Abandonada a necessidade de perspectivar a electrónica (do house ao ambient) através de um ângulo afectivo e idiossincrático, conforme acontecia nos quase incógnitos dois discos anteriores, sobra folga para admiráveis canções de estrada. Só com muita convicção se chega a um brilharete como “Highway”, o hino de estrada que os ZZ Top arranhariam numa encarnação menos quadrada, em que a adoração por boas pernas desse lugar a uma capacidade sobrenatural de entrelaçar gospel, blues e um piano extasiado pelo toque de Hossana nas alturas. A fome de asfalto não é presença estranha na dieta do Paul McCartney, que, em conjunto com os Wings, formou uma Band on the Run preparada para atropelar todo o tipo de desconfianças no disco de 1973 que recolocou “Macca” no mapa.

Recuperando algum desse espírito de road movie (dominante na década em que McCartney consolidou a sua individualidade artística), Electric Arguments adopta o trânsito permanente como a sua principal dinâmica. Nunca chega a ser perceptível qualquer desnível abrupto numa romaria descomprometida que tem início num fôlego evidentemente rock e que termina algures entre uma névoa formada por eco e electrónica sem receio da sua aparente ingenuidade (“Lovers in a dream” é house cândido para atar línguas em nó). Calcula-se que a mão de Youth, a metade mais afeiçoada às cambalhotas da electrónica, tenha servido também para impedir que McCartney se estabelecesse no seu próprio perímetro de segurança, enquanto configurava o primeiro disco de Fireman realmente disposto a oferecer canções de corpo inteiro. Numa era em que os veículos híbridos geram entusiasmo, Electric Arguments é um todo-o-terreno que, no mínimo, merece um test drive.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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