DISCOS
CSS
Donkey
· 15 Set 2008 · 08:00 ·
CSS
Donkey
2008
Sub Pop / Popstock


Sítios oficiais:
- CSS
- Sub Pop
- Popstock
CSS
Donkey
2008
Sub Pop / Popstock


Sítios oficiais:
- CSS
- Sub Pop
- Popstock
Confirmação de acontecimento previsto por todas as bolsas de apostas e boletins de futurologia: o electro-rock das CSS foi de cavalo para burro.
Entre palpites e alguma sede de sangue, o mundo minimamente atento sabia que era perfeita utopia exigir às Cansei de Ser Sexy (entretanto adaptadas a CSS) um segundo álbum que superasse, ou que pelo menos não lesasse, o bombástico fenómeno criado em torno da fornada inicial de temas instantaneamente populares no Brasil. Alguns desses temas viriam, em primeiro lugar, a ser lançados num homónimo pela Trama e depois internacionalizados pela Sub Pop, numa altura em que era já muito limitada a pachorra reservada às CSS no Brasil. Isso não impediu que o fenómeno global ecoasse um pouco por toda a parte (e com uma regularidade às vezes saturante) em campanhas publicitárias, artigos no respeitável The Guardian e até através de videojogos tão populares como Sims 2 ou Fifa 08. São essas as trivialidades que realçam o alcance mediático de facto merecido por óptimos singles de prazo bubblegum como os sonantes “Alala” ou “Let’s Make Love and Listen to Death from Above”, argumentos favoráveis à constatação de que as CSS do primeiro álbum (ou quem as produziu) eram bem capazes de sustentar o seu electro-rock além das duas estações da ordem.

E desde quando alguém pode esperar que um electro de tendência sobreviva mais tempo do que uma posta de bacalhau ultra-congelado? Na impossibilidade de reproduzir um novo acidente genuíno, Donkey desespera sofrivelmente por apresentar as CSS num registo mais amadurecido. Mas esse persiste em não colar. Soa a Kiss sem maquilhagem. Compete no campeonato das guitarras para massas (competição inventada pelos Bloc Party) e fracassa. Tenta revitalizar o charme primário dos sintetizadores de sempre e fica invariavelmente aquém de resultados anteriores. Chega a arriscar algumas aproximações (suavizadas) ao catálogo da Sub Pop, mas o rock de lenhador dos TAD será sempre dinamite demasiado quente nas mãos de Lovefoxxx e restante turminha paulista. As pernas que faltam ao burro artístico da capa foram, afinal, mutiladas pelas expectativas não superadas por um Donkey claramente insuficiente.

As aptidões de pugilista de um burro não são comparáveis às do canguru, o que à partida tornava o primeiro mais susceptível a levar uma sova. Mas que tratamento se pode reservar a um álbum que esgota os trunfos no primeiro par de faixas? Apesar de acéfala, a segunda “Rat is Dead (Rage)” convence através de alguns golpes hard-rock (incluindo o eco de um berro assanhado e um bom riff). Depois disso, tudo se parece com uma prova de natação entre cactos espinhados pelo previsível e anémico. Repare-se em como as alturas desenfreadas e refrão insuportável de “I Fly” chegam mesmo a provocar náuseas. Perante um cenário tão desertificado de ideias, sente-se ainda mais a falta da dinâmica em tempos oferecida pela alternância entre o inglês e português das letras divertidamente desleixadas. Donkey nem sequer tem carisma suficiente para, com o tempo, vir a ser um clássico de culto como Pinkerton dos Weezer, inicialmente dado como desastre (a nível comercial e de crítica) e depois adoptado por uma fervorosa legião de seguidores.

O Brasil costuma utilizar a expressão p’ra burro para identificar excesso. Ou seja, Donkey é chato p’ra burro. O fardo de one hit wonder somado ao fracasso deste segundo disco apontam no sentido de um coma profundo como (ir)realidade artística para as CSS. O amor intercontinental vence no fim e Donkey serve nem que seja para atribuir um significado mais profundo ao momento em que Lovefoxxx encaixar o seu olhar no do noivo Simon Taylor-Davis, dos igualmente passageiros Klaxons, e fizer a pergunta: Foi bom, não foi?
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
RELACIONADO / CSS