DISCOS
Abe Vigoda
Skeleton
· 17 Jul 2008 · 08:00 ·
Abe Vigoda
Skeleton
2008
Post Present Medium


Sítios oficiais:
- Abe Vigoda
- Post Present Medium
Abe Vigoda
Skeleton
2008
Post Present Medium


Sítios oficiais:
- Abe Vigoda
- Post Present Medium
Como falar de Brooklyn, África e Animal Collective, sem trazer à baila o termo hype?
Olhar hoje para o caleidoscópio pop norte-americano (indie, se preferirem) sem referenciar os Animal Collective, parece tão inevitável quanto resgatar à memória os dourados anos do CBGB sem passar pelos Talking Heads. O mediatismo a que a obra-prima Feels e o seu apelo universal (já lá estava tudo em Sung Tongs mas poucos quiseram saber) foram alvos, originou milhares páginas cheias de expressões como "infância" ou "étnico" e um apetite voraz por uma pop desconjuntada, mas inteligentemente dócil, de pés bem assentes no legado urbano da cidade que nunca dorme, mas com a cabeça cheia de sonhos idílicos ou tropicais. Voltou-se também a falar de (forma mais ou menos discreta) da aculturação de alguma música africana por um panorama indie maioritariamente branco e até então umbiguista, feita de uma inteligente justaposição de padrões rítmicos de forte apelo à dança comunal e linhas melódicas erigidas das areias do Mali. A palavra proibida espera assim apenas mais uma oportunidade para se voltar a fazer ouvir, como o fez de forma tão incisiva aquando da saída do mediano Mirrored ou do pastiche estéril de All Hour Cymbals, sem resultados merecedores de tal entusiasmo. Basta agora a über-influente pitchfork carimbar a palavra de quatro letras em vermelho bem vivo sobre Skeleton e o quarteto de Los Angeles terá toda uma atenção redobrada, que, no caso em questão é parcialmente justificável.

Esvaziando de psicadelismo os momentos mais eléctricos e exultantes do quarteto maravilha de Baltimore, os 14 temas de Skeleton têm no savoir faire dos seus criadores uma qualidade que se revela também a sua maior fraqueza. Despidos de superficialidades aliciantes, as canções de Skeleton são inequivocamente algumas das mais entusiasmantes saídas do calor de Los Angeles em tempos recentes, balanceando-se sensualmente no limbo entre a bateria vigorosa de Reggie Guererro e os rendilhados de guitarra escorregadios de Juan Velazquez e Michael Vidal, sem nunca correrem o risco de deixar cair a sua frescura pop para o facilitsmo choninhas ou desconstrução despropositada. É precisamente a mestria dos Abe Vigoda no dominío desta (sua) arte, que faz com que o math-rock ensinado às crianças (logo, prevalece o seu lado lúdico, sem desdenhar a lógica) de "Bear Face" ou a Dischord via campfire song de "Live Long" vejam a sua eficácia sobrepor-se à sua capacidade de se colarem no cérebro (aquele que tem sido o sonho acordado da pop).

O modus operandi é persuasivo e nunca contundente, deixando-se mostrar sem pudor, mas parte da diversão de "Lantern Lights" ou da faixa título advêm dessa mesma honestidade. E Skeleton por ora vive bem assim, a rodar no carro numa viagem de Coimbra para a Figueira da Foz (cerca de 30 minutos, para os interessados), descontraído, sem surpresas, rotineiro. Ainda assim, bem mais refrescante do que a rotina laboral, e devidamente prazenteiro.
Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com

Parceiros