DISCOS
Nelassassin
Reconstrução
· 23 Jun 2008 · 08:00 ·
Nelassassin
Reconstrução
2008
Edel


Sítios oficiais:
- Nelassassin
Nelassassin
Reconstrução
2008
Edel


Sítios oficiais:
- Nelassassin
Ao terceiro disco, o primeiro com um selo de uma editora, Nelassassin assina um disco de bom gosto assinalável. O hip hop português em movimento.
Chamam-lhe DJ Assassino. E para o terceiro disco Nelassassin quis cumprir o ritual – o terceiro capítulo da sua discografia – com um uma equipa allstar (ou quase) do hip hop português. Ele consuma funções no turntablism, eles dão voz a umas quantas frustrações e algumas manifestações certeiras – uma ou mais visões do país e do mundo, diriam alguns. Reconstrução é, admitidamente, o disco mais requintado com a assinatura de Nelassassin. Se o é nos convidados, felizmente é-o também nas opções musicais, na escolha do caminho. É-o logo com “1 minuto”, com o irrepreensível Mundo, um dos melhores mestres de cerimónia que Portugal tem o prazer de ouvir. Parte-se de um instrumental eficaz e luminoso, faz-se a união entre Carcavelos e Nova Gaia.

Reconstrução será uma das provas de que o hip hop tuga cresceu nos últimos anos ao ponto de aparecer de quando em vez mas de forma certeira. Pode ser que em 2008 a produção não seja muito alta; pode ser que não atinja o público da mesma forma que noutros países como os Estados Unidos; mas é verdade que tem sabido regenerar-se e, quase todos os anos, gerar dois ou três discos de qualidade superior. Reconstrução, no virar de 2008 para 2009, será com certeza um deles. Seja pelo facto de cada tema ter continuidade lógica no seu seguinte, seja pela vitalidade de temas como “Shakespirate” (com participação de Sagas, Sanrise e Sam the Kid), seja pelo ritmo pulsante e constante, seja na feliz convivência de distintas estéticas, seja na confluência das várias vozes. Nelassassin acha que estes são os melhores MCs que conhece; e essa firmeza é notória.

Nelassassin teve o cuidado de demorar o tempo suficiente a confecionar os bits certeiros para lhe acrescentar as vozes certeiras. Com Micro, “Não há Adeus”, é uma prova perfeita do cuidado de Nelson Duarte (o homem por detrás de Nelassassin), com a adequação da voz às ambiências. A fechar o disco, já para lá do que o alinhamento do disco prevê, como bónus, uma mixtugatape e um tema com a voz de Kalaf a espalhar magia pelo ar, na escolha da seda em vez do polyester. Entre beats e rimas, alinhavam-se “palavras” e cortam-se “sonhos”. Assim o é durante todo o disco; e com sucesso, diga-se. Em Reconstrução Nelassassin confirma finalmente tudo aquilo que havia prometido ao longo dos últimos anos.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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