© Luís Bento |
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Galeria Zé dos Bois estava cheia. Para uma banda cujo vocalista, em entrevista
ao Bodyspace, diz idolatrar J. Mascis ("O melhor guitarrista do mundo")
e Evan Dando, e que se orgulha de ter tirado o nome da banda de um disco de
Prince, era estranho a maior parte da audiência ser constituída por gente
do punk/hardcore. Um empresário punk, membros de bandas punk portuguesas algo
conhecidas além-fronteiras ou de bandas locais, entre muitos outros entusiastas
da cena punk, compunham a plateia que não deixava ver nada do que se passou
no palco.
Os Last Days of April são da Suécia, um país que é conhecido por não ser lá
muito quente, mas que também é conhecido por produzir muita música. Ora vejamos:
os Abba, os Roxette, os Europe (que vão regressar em breve) ou os Ace of Base
eram todos suecos. Os Cardigans, os Logh, os Hellacopters, os Mando Diao,
os Hives, os Refused, ou, na sua mais recente aventura, os The (International)
Noise Conspiracy, entre dezenas de outras bandas, também são suecos. A música
dos Last Days Of April é solarenga, boa para ouvir no carro enquanto se vai
à praia, especialmente a dos mais recentes discos da banda, Ascend to the
Stars, de 2002, e "If you Lose it", do presente ano. Foram estes
os discos donde saíram quase todos os temas tocados.
O som dos Last Days of April, por muito refrescante que seja, é formulaico,
apesar de ser sempre bem executado, e de ter sempre boas canções a apoiá-lo.
Ao fim de algum tempo, começa a cansar, o que não se deu em concerto devido
à sua brevidade. Descargas à Dinosaur Jr. (estranhamente, ninguém fez "mosh"
durante estes momentos, e ainda bem), bem como momentos intimistas, calmos,
são a base do som destes suecos. Como nos explicou Karl Larsson, a banda que
ontem tocou era feita de músicos convidados, sendo que os Last Days of April
hoje em dia são apenas dois. Um baterista, dois guitarristas (Karl Larsson
e um guitarrista que não participou nas tournees de apresentação nem
de Angel Youth, nem de Ascend to the Stars, apesar de ser um
membro fundador), um teclista e um baixista foi o alinhamento da banda. Sendo
músicos convidados, não estavam habituados a tocar todos juntos, o que ajudou
à brevidade do concerto, pois só se podia ensaiar um certo número de temas.
Estes não diferem muito entre si, mas sendo boas canções e tendo a prestação
musical da banda sido boa, foi evitado o aborrecimento. Evitar encores tornou-se moda na Zé dos Bois e se na semana passada foram os Califone, esta
semana foram os Last Days of April que não saíram do palco, tendo este apenas
sido abandonado por momentos pelo baixista e baterista, por não serem necessários
no princípio de "At Your Most Beautiful", a faixa que fecha o disco Ascend
to the Stars. Numa interpretação intimista e sentida, foi o tema mais
forte.
Longe de ter sido avalassador, o concerto dos Last Days of April foi agradável,
bem tocado, mas com alguns problemas de som - a bateria estava demasiado alta,
sobrepondo-se aos outros instrumentos por vezes. Apesar disso, uma noite bem
passada.