bodyspace.net


Ölga
O Meu Mercedes é Maior Que o Teu, Porto
08/04/2004


Dos Can aos Mogwai quanta distância vai? Muita. E não parecem ser os Ölga a ligar essas duas formas de fazer rock instrumental - os Ölga tanto se dedicam a exercícios mais soltos e próximos do krautrock dos Neu! ou dos Can, como, noutros temas, abraçam descaradamente a estética dos Mogwai. Eram derivações do som da banda de Glasgow (pontuadas pelo violoncelo) que se ouviam no agradável EP de estreia dos Ölga e sobre ele se disse neste mesmo site que faltavam "ainda aos Ölga canções que incomodem, que mexam nas entranhas, que façam pelo ouvinte algo mais do que o stargazing". Ao vivo, a paleta estílistica alarga-se, mas sem particulares consequências no ouvinte, obrigado a manter-se em pé e não na modorra prazenteira do sofá.

Em palco, uma pouco habitual formação: duas baterias, um baixo, uma guitarra, um laptop e um órgão. Bastantes instrumentos para três pessoas apenas. Solução: a distribuição de tarefas. Ao longo do concerto, os membros iam trocando de instrumento: ora se ouviam duas baterias e um órgão, ora duas baterias e um baixo (numa canção reminiscente dos Don Caballero), ora uma guitarra e duas baterias. O resultado deste desdobramento instrumental foi mais de metade do concerto preenchida por canções que diferem do pós-rock que se ouvia no EP. A saída do violoncelista aumentou as possibilidades sonoras do conjunto e acrescentou-lhe uma forte vertente percussiva e menos planante, mas a ponte entre a estética Mogwai e uma música mais física não está ainda feita.
Entre os temas do EP homónimo tocados, "Old Piano" ressente-se da falta do violoncelo e cinge-se à tríade piano-baixo-bateria. "Train's Fog", o ponto alto do EP, foi também um dos poucos momentos que agarraram o público. Curiosamente este é um tema que podia servir de exemplo para esse síndrome que afecta as bandas do género: é só contar os tempos e já sabemos que virá novo crescendo, até o rebentamento em torrentes de distorção (que nos Ölga surgem sempre timidamente).

A indefinição pode ser ponto de partida para voos menos previsíveis para os Ölga. Porém, na maioria dos temas ouvidos no Mercedes, essa indefinição é ainda inconsequente e não traz particular encanto para a música da banda. Um caso clássico de esperar para ver.

Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com
08/04/2004