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Wim Mertens Ensemble - Madrid EnCanto 2006
Teatro Albéniz, Madrid
15/06/2006


Entradas esgotadas para receber o belga Wim Mertens e o seu ensemble no Teatro Albéniz, naquela que foi a penúltima actuação do Festival Madrid EnCanto. Mesmo depois das duas actuações de artistas portugueses, continuava-se a ouvir falar português – e não era só o discurso candongueiro do homem que, em espanhol algo macarrónico, tentava vender os últimos bilhetes disponíveis. E se as entradas estavam esgotadas (em Espanha Wim Mertens, já com mais de 25 anos de carreira, e uma quantidade notável de discos, goza de uma popularidade assinalável), a sala estava correspondentemente cheia. No palco marcava presença um piano, mas também se desvendava quatro espaços possíveis para quatro músicos possíveis. Eram os espaços que foram à hora marcada ocupados pelo quarteto de sopro que fez com que no anuncio do concerto a expressão “ensemble” estivesse junta e no seguimento do nome de Wim Mertens. Resultado da criação frutífera do belga, não Havia um só motivo para o concerto, mas sim dois: ainda Un Respiro, registo editado em 2005, e o mais recente Partes extra partes, gravado com a Flemish Radio Orchestra e com a ajuda do argentino Dante Anzolini.

Em Un Respiro, por exemplo, Mertens consegue um disco essencialmente minimalista ao piano, dotando-o de voz no seu idioma inventado que fez lembrar uma espécie de linguagem dos anjos, algo eminentemente perpétuo e imortal – e em algumas ocasiões quase perturbador. Neste concerto em particular (assim como uma digressão quase toda em formato ensemble, apenas interrompida para se transformar em duo para o par de concertos no México agendados para Outubro), Wim Mertens conta com arranjos de instrumentos de sopro que quebraram de certa forma esse minimalismo para dotar as composições do belga de uma maior profundidade sentida a cada momento da actuação. Esses arranjos ora privilegiavam o conjunto ora abriam espaço a alguns brilharetes solistas, e neste capítulo o destaque vai direitinho para o saxofone. Com ainda pouco tempo de actuação Wim Mertens e o seu ensemble saem do palco e o público pede mais. Pede mais até que alguém do staff ou da organização entra em cena para anunciar que os músicos fariam uma pausa para depois voltar a palco.

Em comparação com a primeira parte do concerto, a segunda foi muito mais emotiva, até porque Wim Mertens decidiu gastar aí, e finalmente, todos os seus trunfos. Cada início de composição correspondia a aplausos e ovações por parte da plateia, claramente conhecedora da obra do belga. Foi nessa altura e até ao encore que os cinco músicos em palco foram capazes de introduzir mais intensidade na actuação. Sempre ao piano, Wim Mertens foi capaz criar momentos de puro prazer. Os espanhóis (quase de certeza em grande maioria, mesmo no aglomerado de gente de imensas nacionalidades que é Madrid), estavam em êxtase, o que leva a pensar que deram por bem gastos os 20 ou mais euros que investiram na entrada. Tudo leva a crer que voltariam a gastar esse dinheiro, e tudo leva a crer que ainda terão a oportunidade de o fazer. Wim Mertens estava claramente a jogar em casa.

André Gomes
andregomes@bodyspace.net
15/06/2006