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Dianne Reeves
Centro Cultural de Belém, Lisboa
14/05/2006


O ano 2006 parece ser o grande ano do jazz vocal em Portugal. Entre revelações e confirmações, uma vaga de cantoras jazz impõe-se visivelmente. Às consagradas Maria João, Jacinta ou Paula Oliveira, juntam-se jovens revelações como Joana Machado, Marta Hugon ou Angelina, entre outras, formando uma oferta diversificada de vozes femininas nacionais. E, para lá das vozes nacionais, têm passado pelos nossos palcos as grandes vozes internacionais de referência. Patricia Barber mostrou-se no Centro Cultural de Belém. Stacey Kent passou pelo novo Casino de Lisboa. E Dee Dee Bridgewater conquistou o grande auditório do CCB.

Agora, Belém voltou a receber mais outra grande voz do jazz contemporâneo. E, tal como Dee Dee, que trouxe um projecto de homenagem à música francesa, o projecto apresentado por Dianne Reeves fugiu às estruturas jazzísticas mais habituais. Acompanhada por dois guitarristas, o espectáculo “Dianne Reeves Strings Attached” desiludiu aqueles que esperavam um acompanhamento puramente jazzístico, pelo menos pela sua instrumentação habitual piano/contrabaixo/bateria. E foram as duas guitarras que abriram o espectáculo, num dueto exemplar. A fluidez de diálogo entre a guitarra eléctrica de Russell Malone e a guitarra acústica de Romero Lubambo demonstrou, para lá de técnica soberba dos guitarristas, que o acompanhamento à voz seria sóbrio e nunca excessivo.

A voz magnífica de Dianne não demorou até domar o público que esgotou a grande sala do CCB. Começou por cantar a versão em inglês de um tema clássico de Tom Jobim, “Triste”, retomando o Brasil pouco depois, para outra versão (“O Amor em Paz”/“Once I Loved”). Entre estes pulos à bossa nova, passaram standards: “Softly As In a Morning Sunrise” e “One for My Baby (And One More for the Road)” - música retirada da banda sonora do filme Good Night, And Good Luck, onde Dianne Reeves também participa como actriz, interpretando o papel de uma anónima cantora de jazz.

A (boa) surpresa da noite terá sido a interpretação do clássico pop “You’ve Got a Friend”, que Carole King popularizou no disco com o gato na capa (Tapestry). A canção original “Nine”, dedicada à inocência e à imaginação, foi outro ponto alto de uma noite feliz. Inspirada, a sempre simpática Dianne passeou a voz pelos diversos registos, sem fazer grandes desvios às melodias originais, mas transparecendo sempre sobriedade, estilo e elegância. O público declarou imediatamente a veneração, evidente nos aplausos e nas insistentes chamadas para encore - aliás, o público ofereceu uma apressada stand up ovation antes mesmo de a cantora ter terminado a sua última música. O espectáculo justificou, Dianne Reeves foi magnífica.

Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
14/05/2006