Alla Polacca
Teatro Helena Sá e Costa, Porto
21/03/2004
Situado na mui recôndita Rua da Alegria, no Porto, o Teatro Helena Sá e Costa, que mostrou ser um excelente local para se assistir a um concerto, recebeu a visita dos Alla Polacca que, para quem ainda não sabe, são formados por Leonel Sousa, Márcio Carvalho, Telmo Carvalho, Pedro Marques e Rodrigo Cardoso. O concerto, esse, acontece ainda inserido na promoção do disco ...Why Not You? que foi editado em 2003, pela Bor Land. Mas o evento seria mais do que uma apresentação dos temas do primeiro disco. Literalmente, pois as actuações dos Alla Polacca costumam ser "pintadas" por temas de compilações da Bor Land e, no caso desta noite, por canções ainda em construção.
Definir a música dos Alla Polacca, além de arriscado, seria desnecessário. Mas, e aos primeiros acordes, é impossível não pensar em dois ou três nomes: Radiohead, Sigur Rós e Explosions in the Sky.
Quando os cinco elementos entraram no enorme palco, enfrentando cerca de meia casa, já há muito se ouvia uma espécie de intro ambiental, típica nos concertos da banda. Por detrás do palco, uma tela manchada em tons de azul e lilás criava um efeito fantasioso. Segue-se a entrada do piano, e do resto da banda. E esta primeira canção, não incluída no álbum, mostra que os Alla Polacca são, cada vez mais, um projecto coeso e seguro de si. Seguiram-se “Geonav”, retirada de uma das compilações lançadas pela Bor Land e “Astray”, incluída em ...Why Not You?. Mesmo com as falhas técnicas registadas numa das guitarras, “Astray” foi o primeiro bom momento da noite. É uma canção quase tão catchy como melódica. As duas guitarras funcionam de forma quase perfeita na produção da textura da canção; uma, mais cadente, constrasta com uma outra guitarra tão celeste como delicada. As vozes, duas, em coro. Por momentos, lembramo-nos dos Bedhead de What Fun Life Was mas guardamos a ideia só para nós.
Os Alla Polacca dos concertos, mais do que em disco, exploram a fundo a componente instrumental e, em última análise, o lado mais experimental das canções. Longas introduções, onde cada elemento da banda, a seu jeito, vai experimentando os possíveis sons do seu instrumento, como se de um jogo se tratasse, antecedem o "verdadeiro" início das canções. O piano ou as teclas têm, na maior parte das vezes, o maior destaque. É assim que a maior parte das canções começam, e é da mesma maneira que muitas das vezes acabam. Regular, também, é a presença de pequenos pormenores electrónicos que rodeiam as canções. Pequenas minucidências ajudam a dar corpo às canções, a torná-las mais cheias, mas não comprometendo a fidelidade ao disco.
Seguidamente, apresentaram uma canção nova que, e segundo o vocalista da banda, fizeram há pouco tempo e ainda nem sabem o nome. Talvez por isso as cores do palco alternavam entre o vermelho, o verde e, em último lugar, o preto. O tema é bastante diferente do restante repertório da banda; instrumentalmente é irrepreensível, e os vocalistas alternam até que, quase em pausa, a bateria entra em crescendo e se assiste a um típico cenário criado pelos Explosions in the Sky. Descarga sonora, ainda que contida e moderada. Foi a surpresa da noite e deixou ficar o desejo de que os Alla Polacca se encaminhem mais por estas direcções, pois fazem-no bem.
Sem pausas pelo meio seguem-se a divertida “Silence Decoder”, a violenta “Further Far” em que se ouve o baixo em distorção, repleto de raiva, e o (já habitual) melhor momento da noite, “Morning VS Jupiter”. Esta última faz lembrar os Sigur Rós de “Untitled 8”, do famigerado vazio parentético ou (), especialmente na bateria, densa e espaçada. Etérea, contemplativa, é um pedido à absorção do pensamento. No encore, os Alla Polacca apresentaram “o single que não passa na rádio”, o "veículo do Kazoo", ou “Wrong Like Us”, que até tem tudo para ter sucesso radiofónico. A música dos Alla Pollaca faz um estranho balanço entre a alegria e a melancolia. Já fez "milhares de pessoas solitárias, felizes”... “Porque não tu?”.