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Vampire Weekend
Coliseu dos Recreios
26-/11/2019


Sempre que os Vampire Weekend pisarem um palco iremos recordar-nos de tempos idos, onde a maior preocupação era arranjar um link decente para sacar o seu álbum de estreia, por entre sessões mais ou menos agressivas de estudo universitário. Mas esta não é uma percepção universal. De lá para cá, a banda norte-americana conseguiu aglutinar mais umas quantas centenas de fãs, de gerações diferentes, culpa de uma música melódica, rítmica, e ao mesmo tempo nostálgica e muito do presente; uma espécie de psicadelismo reinventado para o tempo de todos os psicadelismos.

A prova: "Flower Moon", a canção com a qual abriram o concerto no Coliseu dos Recreios, naquela que foi a segunda passagem dos Vampire Weekend por Lisboa em nome próprio - e sabe tão bem apanhar uma banda assim sem ser em contexto de festival, rodeados de pessoas que não se dignam a prestar atenção ao que quer que seja que se passe em palco. A sala encheu e sentiu-se preenchida, o que se notou logo a seguir, quando "Holiday" deu um ar da sua graça: a efusividade era contagiante até em corpos já cansados de tanta música ao vivo.

Falava-se das melodias, simples, bonitas, eficazes, como o sorriso de uma criança que teima em não crescer. O mesmo sorriso que muitos ostentaram ao replicar, em coro, a letra de "One (Blake's Got A New Face)", a pedido de Ezra Koenig, cujo profissionalismo não o impediu de ir mostrando um ou outro rasgo de agradecimento interno por saber que, dez anos depois, o hype não matou os Vampire Weekend como o fez com tantas outras bandas indie.

"Sympathy", em modo acelerado e muito punk, deu lugar a "Oxford Comma", uma das mais belas canções do catálogo inicial do grupo, antes de uma incursão por "Jonathan Low", da banda-sonora de "Crepúsculo", pôr aos gritinhos algumas aspirantes a amantes de vampiros. "Sunflower", com um maravilhoso solo de guitarra azeiteiro como se quer, e a toada country de "Married In A Gold Rush" poderiam ter terminado o concerto logo ali, mas ainda havia muito por suar.

A sauna cresceu com "Cousins" e "A-Punk", que até permitiu um curto mosh e deu a um crowdsurfer oportunidade para brilhar, antes de um encore com "Mansard Roof" e um daqueles momentos bonitos: um jovem italiano sobe ao palco para tocar, ao piano e com a banda, "My Mistake", perante os aplausos dos presentes. Na última noite da digressão europeia dos Vampire Weekend, só faltou mesmo "Diplomat's Son", mas houve "Walcott" a elevar corações. E até houve um tipo a sair dali completamente alcoolizado. Quem disse que o indie não é rock?

Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
04/12/2019