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Feist
Coliseu dos Recreios, Lisboa
9-/09/2018


Há muito tempo que não tínhamos Feist junto de nós. Tanto, que poderíamos ter entrado para a universidade, poderíamos ter-nos licenciado, poderíamos ter casado, tido um filho ou dois, arranjado um emprego estável. Seis anos é muito tempo, e o público que compôs o Coliseu de Lisboa (ainda que muitos lugares nos camarotes estivessem desocupados) comprovou-o, numa noite de Setembro quente, espalhando algum amor e conforto e recebendo-o da voz da canadiana, que veio mostrar o seu novo álbum, Pleasure.

Da voz, mas na medida dos possíveis: uma voz robótica, arranhando o português brasileiro, anuncia aquilo que deveríamos esperar desta noite. Feist, para mal dos seus (e dos nossos!) pecados, havia-se constipado em Paris, pelo que a sua garganta não estaria a 100%. E isso foi notório ao longo dos primeiros temas, "Pleasure", "The Bad In Each Other" e "How Come You Never Go There", que contou com a colaboração especial de La Force, ou Ariel Engle, sua colega nos Broken Social Scene, que esteve encarregue de fazer a primeira parte.

A dada altura, a máquina lá conseguiu engrenar - ou talvez tenha sido o público que se esqueceu que lhe faltava óleo, e continuou a conduzi-la noite dentro, esperando por um qualquer milagre ou ignorando o prenúncio de apocalipse. Engrenou tanto que poucos terão sido aqueles que não se arrepiaram quando Feist resgata "Limit To Your Love" a James Blake, apenas e só para espetar mais um bocadinho a faca no coração que chora e quer chorar.

Foram duas horas e poderiam ter sido muito menos, dado o estado da voz de Feist. Mas também poderiam ter sido muitas mais, talvez as mesmas que demoramos a chegar até à lua - sim, "My Moon My Man" foi efusivamente aplaudida pelos presentes, como não poderia deixar de ser. O final com "1234" foi só o corolário de uma noite perfeita na companhia da canadiana. Tanto para nós, como para o casal gay de São Francisco, a passar férias por cá e o qual encontrámos a lacrimejar sob a noite de Lisboa. Talvez tenham sido as canções de Feist, talvez tenha sido o ácido que nos confidenciaram ter tomado. Seja como for, não há droga que supere a música.

Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
17/09/2018