bodyspace.net


Linda Martini
Lux, Lisboa
15-/02/2018


Ouvimos todos o chamamento: 15 de Fevereiro, Lux, um dia depois do Dia dos Namorados e um dia antes daquela ilusão de fim-de-semana, daqueles sonhos-copos com os amigos, da troca de afectos, de histerias, de electricidade; um dia, aquele dia, igual a tantos outros em que fomos intimados pelos Linda Martini a comparecer, uma daquelas bandas que cresceu junto de nós e nós junto com ela; um dia, um dia apenas de casa cheia com a juventude sónica e irrequieta que há mais de uma década tem seguido com afinco o percurso do quarteto lisboeta, a resposta millenial ao FALTA RUOCK...

Um dia com os Linda Martini é um dia bem passado, mesmo se o concerto se atrasa vinte minutos e começamos a pensar que já não vai para apanhar o caralho do metro para casa. Felizmente, somos jovens. Aguentamos. Nem a dor pontiaguda sentida no final, que continuou no dia seguinte, fruto de um mau salto para tentar apanhar aquela setlist mágica, faz colapsar o sorriso na cara. Os Linda Martini estiveram no Lux para apresentar o seu disco novo, homónimo, que serve também para apresentar Linda Martini, a mãe que lhes deu nome, ao mundo - não que não soubéssemos já essa história de cor e salteado, mas aparentemente pouca gente o sabia.

Foram sobretudo os temas novos a merecer o maior destaque, com "Semi Tédio Dos Prazeres" logo a abrir, canção alicerçada numa linha de baixo grandiosa e tensa que a controla por inteiro mesmo por entre o ruído das guitarras. De súbito, um pensamento: Cláudia Guerreiro é provavelmente a baixista mais fixe do mundo em cima de um palco, se calhar perdendo apenas para Debbie Googe, dos My Bloody Valentine - que tem a vantagem de ter mais uns anitos de carreira em cima, vantagem essa que é equilibrada pelo facto de os Linda Martini não parecerem estar preocupados com os anos que passam, continuando tão jovens e tão frescos como antigamente. Mesmo que essa juventude pareça, vá, ligeiramente mais crescida: dos 15 anos hardcore para uns 16 mais melódicos.

É com "Boca De Sal" que o quarteto recebe o seu primeiro grande aplauso por parte do público, em mais uma tradução do estado de espírito que os move e sempre os fez mover: Quero tudo ao mesmo tempo.... Ainda que a canção tenha um grave problema; a meio, desemboca naquele rock genérico que O Gato Mariano tão bem explicou um dia destes - e eles perdoar-nos-ão estas palavras, assim como lhes perdoamos essa falha. Esta não era, no entanto, noite para quaisquer más ondas, e sim para firmar os Linda Martini como candidatos ao panteão - até por ter sido com "Panteão" o primeiro grande sing-along.

"Belarmino" soou tão estridente como sempre, e a recuperada "Lição De Voo Nº 1", uma das canções mais bonitas da língua portuguesa, voltou a marcar presença num alinhamento de um concerto da banda. "Unicórnio De Sta. Engrácia" levou a que o público presente, especialmente o mais jovem, desatasse aos pulos e permitindo a Hélio Morais fazer uma piada rebuscadíssima com os Kris Kross (que provavelmente ninguém percebeu), antes da ternura doom de "Se Me Agiganto" colocar um ponto final na primeira parte do concerto.

Faltava o encore, que acabou por não o ser, já que os Linda Martini não saíram do palco. Em vez disso, irromperam por "As Putas Dançam Slows", tema para abraços e roçares em corpos, passando depois pela imprescindível "Amor Combate" (das poucas canções dor de corno que também dão para o mosh), por "Putos Bons" e pelo final com "Cem Metros Sereia" - à qual não fugiram, evidentemente, as gargantas do público. Já fodemos muitas vezes com os Linda Martini, mas amamo-los ainda mais.

Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
19/02/2018