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Melt-Banana
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
29-/09/2017


Percebam: já estávamos há demasiados anos à espera. Alguns de nós esperavam pelos Melt-Banana há dez anos, quando a estranheza de Bambi's Dilemma e, depois de todos os outros nos entrou pela primeira vez nos ouvidos como um verme. Nessa altura, toda uma panóplia de pratos tradicionais japoneses começou a fazer parte, também, da nossa dieta. Les Rallizes Dénudes. Mainliner. Taj Mahal Travellers. Speed, Glue & Shinki. The Gerogerigegege. Merzbow. Boredoms. Hijokaidan. Fushitsusha... E, de sobremesa, uma Melt-Banana fresca, grindpop sem rodeios ou receios que mais parecia vir, como o grande John Peel disse, de outro planeta.

© Vera Marmelo

Outros aguardavam-nos há mais tempo, mais velhos e mais sintonizados com as boas-novas que vinham do Oriente. E ainda havia quem tivesse ido pela curiosidade, conhecendo apenas o nome ou tendo visto registos das suas actuações no YouTube. Pouco importava; naquela noite de Setembro, Lisboa (como o Porto o há-de ter sido, no dia anterior) foi palco para uma reunião de família, cruzando gerações e perspectivas e géneros. Houve na ZdB mais miúdas no meio do mosh que em muitos outros concertos propícios à sua existência. E isso já quer dizer muita coisa.

© Vera Marmelo

Em palco, apenas dois: Yasuko Onuki e Ichirou Agata, uma armada com um objecto estranho, controle remoto para dúzias e dúzias de sons, da bateria ao noise, o outro "apenas" com uma guitarra eléctrica, uns pedais de efeitos e a célebre máscara na cara. A simpatia que demonstraram após o concerto notou-se ao longo do mesmo, com alguns obrigados e elogios ao vinho verde. Mas a música, essa, não foi de todo simpática: uma descarga brutal de tudo aquilo de que gostamos no que ao barulho diz respeito.

© Vera Marmelo

Ouviram-se muitas canções, oscilando entre o punk espasmódico que não precisa de mais do que trinta segundos para ser feliz, até aos delírios e devaneios do rock mais espacial. Não havia, no entanto, tempo para ficar por mais do que uma hora, e isso é pena. Mas, depois de tantos anos, encontrá-los ali, enérgicos, à nossa frente foi sobretudo algo especial - pelo que nem vale a pena referir que álbuns tocaram, eles que não lançam um também há demasiado tempo... Tal como lhes dissemos no final, a vontade é a de que voltem depressa. Tanto aos álbuns como aos nossos palcos.

Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
03/10/2017
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