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Woods
Musicbox, Lisboa
8-/04/2017


Algures no seu percurso, os Woods desistiram de ser uma banda lo-fi e passaram a saber tocar - isto é, deixaram de se refugiar na preguiça de um som rouco e decidiram explorar todas as camadas à sua volta, resultando isto em pelo menos dois dos discos mais importantes, e entusiasmantes, desta década: With Light And With Love e City Sun Eater In The River Of Light, que curiosamente até são os seus dois últimos. Trabalhos onde um portentoso arco-íris pinta aquela folk outrora monocromática, onde quase até podemos sentir o cheiro de cada uma das canções que ali interpretam.

O mesmo é válido para a sua postura ao vivo; cinco pessoas bastante enturmadas entre si, nenhum som de nenhum instrumento perdido no espaço, o psicadelismo - o bom - a espraiar-se sobre uma sala cheia como um bocado de pôr-do-sol. Sala cheia, sim; esta não era a estreia dos Woods em Portugal, mas a banda já soube conquistar o público de cá. Não havendo uma paisagem verdejante que pudesse inspirá-los enquanto tocavam, tiveram de a criar eles. Com mestria.

Nesta noite do Musicbox foram precisamente as canções desses dois últimos álbuns a estar em destaque, antes de uma incursão pelo seu novo trabalho, Love Is Love, a ser editado em breve. Uma garrafa de Heineken fez de cowbell à medida que os músicos iam, pouco a pouco, ocupando o seu próprio lugar em palco, espécie de Zona Autónoma Temporária em que o resultado final é o comunismo. O pendão quase afrobeat foi a primeira a puxar verdadeiramente pela audiência, que até final foi correspondendo com gritos, silvos, corações formados com a ponta dos dedos (os outros demasiado ocupados a voar). Ora pisando terrenos mais calados, ora explodindo em fúria psicadélica, os Woods vieram mostrar porque são uma lufada de ar fresco no panorama indie - e porque é que deveriam ser muito mais do que esse rótulo agora patético. Do encore, como não podia deixar de ser, só ficaram os sorrisos.

Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
11/04/2017