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Pop. 1280 / Qer Dier
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
14-/09/2016


Sem poupar nada nem ninguém: assim foi a estreia dos Pop. 1280 em Portugal, eles que são uma das melhores bandas rock (ou será "anti-rock"?) dos últimos largos anos, cantando a distopia e o virtual como se estivéssemos dentro de Tron, ou Blade Runner, ou de uma versão fantasmagórica e repelente dos Sims desta vida. É difícil não lhes colocar o epíteto cyberpunk - até porque esta é uma música "rasca" e fortemente cibernética (e cerebral), um peso doido nos ossos. Nos ossos, e nas ancas; porque eles, quando querem, também nos fazem dançar ao som do último suspiro do homem que agoniza. Hips to the right, and hips to the left.

Cita-se "Nature Boy" mas a verdade é que não a tocaram. O foco esteve quase sempre no seu álbum mais recente, o fantástico Paradise, sério candidato a disco do ano - se é que não o é já -, rodela de acrílico ou vinil ou mesmo conjunto de dados em .mp3 onde o mundo escolhe morrer um bocadinho mais. O mesmo mundo que pensava não existirem pirâmides em Marte, o mesmo mundo que sonha em infravermelhos. Tal como Portugal; podia ler-se isso num cartaz habilmente colocado na janela no aquário, horas antes do concerto...

Cartaz esse que os próprios Pop. 1280 levaram para o backstage e a cujo pedido acederam: "Bodies In The Dunes", o seu primeiro grande "êxito", foi apresentado com toda a sua violência, num encore não programado precedido por um grito genial - batam palmas, caralho! - por parte de um dos (infelizmente) poucos presentes na audiência. Era por ser noite de bola? Não se sabe. Mas a violência merecia muito mais. Os movimentos corporais de Chris Bug mereciam mais; ora agachado, ora rebolando, ora cantando, se bem que os Pop. 1280 não sejam uma banda que "cante", e sim uma que vomita contra tudo o que está mal neste planeta. Que, a bem da verdade, é tudo. Foi pena. Mas quem esteve saiu vitorioso.

Antes dos Pop. 1280, foram os Qer Dier a ter as honras de abertura, eles que são donos de uma chinfrineira desgraçada e espacial que, por vezes, nos fez desejar ter levado tampões para os ouvidos. O que é uma coisa rara, e ao mesmo tempo um grande elogio às suas capacidades; o noise quer-se abrasivo. Não se ouviram ali canções, mas o som da própria destruição, entre cânticos quase tribais, uma bateria irrepreensível, teclado e guitarras apontadas ao espaço - por vezes víamos os Rallizes Dénudés e todo o seu groove diabólico, outras faziam-nos lembrar os HEALTH, sabendo os Qer Dier alternar entre momentos mais pesados e outros mais introspectivos com precisão. Noite ganha também por eles.

Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
20/09/2016