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Full Of Hell / The Body
Cave 45, Porto
26-/04/2016


Sair de Barroselas para nos enfiarmos no Cave 45, para mais uma noite dedicada ao lado mais extremo do som é um pouco como saltar da frigideira para o fogo. E foi um pouco isso que aconteceu, a julgar pelas altas temperaturas da noite portuense, que infelizmente o cansaço, e a vinda de mais uma jornada de trabalho, não permitiram gozar na sua plenitude. Mas antes do sono do guerreiro, houve a força bruta dos Full Of Hell e dos The Body, estes últimos pela primeira vez em Portugal.

Força bruta, sim, que o grind nas suas mais variadíssimas vertentes não é para meninos e aquele som, no qual batemos como se fosse uma parede, pode chegar a partir uma costela ou duas. Os norte-americanos voltaram ao Porto depois de se terem apresentado no Amplifest 2015, naquele que foi então um dos melhores concertos do festival, e o grito inicial dentro do Cave - aliado à velocidade - ainda nos causa alguns arrepios, esporádicos quando a mistura entre o noise, o grind, os guturais e o bónus da electrónica ressoa sem parecer querer ter fim. Contudo, os arrepios não passaram disso mesmo: esporádicos. Uma pancadaria deste tamanho merecia mais.

Quanto aos The Body, vieram provar que são, nesta década dos 10s, um dos mais interessantes projectos da actualidade dentro do metal (bastando para isso dizer em entrevistas, e citamos, que «odeiam o metal moderno»). E vieram provar que, de facto, ninguém merece a felicidade, tal como o indicaram no seu último álbum de estúdio. Os The Body, dois leitõezinhos que primeiro nos fodem os ouvidos com barulho e depois o fazem recorrendo a um sludge minimal e hipnótico onde as mudanças subtis na textura podem soar imperceptíveis aos mais desatentos, entram pelo corpo (lá está) adentro e destroem cada um dos órgãos vitais e não-vitais com rajadas da mais violenta depressão. E se não fosse pelas rajadas, fá-lo-iam com o tijolo apropriadamente colocado em frente à bateria; pois a sua música, um verdadeiro bloco de cimento, cinzento e pesado, não permite grandes fugas. Em cerca de 40 minutos o duo limpou-nos os ouvidos e a alma, como se nada fosse, e depois desapareceu. Como a felicidade.

Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
02/05/2016