Mais um ano, mais um aniversário em cheio do Musicbox, casa que este ano ganhou em toda a linha no que a concertos relevantes disse respeito. Por ali apanhámos os Linda Martini em modo celebração de carreira; sentimos a terra a tremer com o peso trazido pelos Earth; e ainda vimos o melhor cartaz que um festival nacional aglutinou este ano, com o Jameson Urban Routes a possibilitar vindas (e maravilhas) de Inga Copeland ou La Femme. Provavelmente já se escreveu isto no ano passado aquando do oitavo aniversário do espaço, mas fica novamente a frase: para o ano cá estaremos outra vez.
Este ano não foi Mac DeMarco quem fez a festa, mas sim Afonso Rodrigues, que nos habituámos a conhecer como Sean Riley, e posteriormente como um dos motores dos Keep Razors Sharp. Hoje, a solo, A.R. mostrou-nos um lado mais acústico e sobejamente blues, onde couberam odes à cocaína, temas dos Slowriders e ainda uma "By The Sea" com a presença especial do colega Luís Raimundo, num concerto que aqueceu corpos e corações e que foi bastante bem recebido por uma plateia que contava com inúmeros amigos. Que é como quem diz: o Afonso é um dos grandes, caramba.
Grande é também Josh T. Pearson, regressado uma vez mais a Portugal, desta feita sem a sua grande barba, o que o tornou quase irreconhecível mal coloca os pés em palco na companhia de Calvin LeBaron, com quem tem andado em digressão enquanto The Two Witnesses, gospel troçando de gospel que nos aproxima um pouco mais de Cristo - que é um bacano e acharia certamente um piadão àquilo que Pearson e LeBaron fazem com temas como "I Will Follow Him", de Franck Pourcel, esse mesmo a quem os Rallizes Dénudés roubaram a linha de baixo; mas também houve espaço, como é evidente, para que o pastor vestido de branco e vindo do Texas apresentasse algumas das canções que o tornaram um caso sério, como "Woman, When I've Raised Hell". Para além das anedotas da praxe - envolvendo bateristas e pizzas - e de uma saudável dose de coolness, o Musicbox foi palco de um dos melhores concertos não só da temporada de inverno como do ano inteiro, porque é impossível não nos sentirmos enternecidos não só com a guitarra mas também com a voz de Pearson, quando este se dispõe a contar-nos histórias maravilhosas através da sua música (incluindo um tema novo, "Stillborn To Rock", fazendo questão de salientar que se referia, exactamente, a nados-mortos). Dir-se-ia um Mark Kozelek mas muito mais stream of consciousness e com muito mais sentido de humor; se não quisermos ser preguiçosos, tenhamo-lo apenas como Josh T. Pearson, um dos últimos gigantes dessa Great American Novel que é a vida. Abençoado seja. Na primeira parte actuaram os portugueses Ganso, banda seleccionada numa parceria entre a produtora, Nariz Entupido, e a Tradiio.
Paulo Cecílio pauloandrececilio@gmail.com 07/12/2015