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Ken Vandermark & Fred Lonberg-Holm / Riccardo Dillon Wanke
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
12-/05/2015


A ligação do saxofonista Ken Vandermark com Portugal já era forte, nomeadamente pela sua ligação à Clean Feed (que tem editado diversos projectos seus, como 4 Corners, Side A, Made to Break, Platform 1), mas também a sua relação com o público português está cada vez mais solidificada. Há pouco mais de um ano o saxofonista de Chicago tocava na ZDB e, pouco tempo passado, está de regresso para mais um concerto.

Se em Março do ano passado Vandermark tocou, neste mesmo aquário da ZDB, em duo com o baterista norueguês Paal Nilssen-Love, desta vez o saxofonista apresentou-se ao vivo com um colega da sua cidade-natal, Chicago: Fred Lonberg-Holm no violoncelo. Curiosamente, Vandermark, Nilssen-Love e Lonberg-Holm tocam juntos no Chicago Tentet de Peter Brötzmann e já actuaram ao vivo em Lisboa num memorável Jazz em Agosto (edição de 2008).



O duo das palhetas de Vandermark com a bateria Nilssen-Love na Rua da Barroca em 2014 passou sobretudo pela improvisação em alta intensidade. Poderíamos pensar, dada a natureza “de câmara” do violoncelo, que o dueto com Lonberg-Holm poderia assumir uma forma tranquila, menos enérgica, mais melódica ou lírica. Nada mais errado: o típico vigor e intensidade dos saxofones de Vandermark teve no violoncelista um parceiro ao mesmo nível e esta actuação não esteve distante dessa outra passagem.

Carregado de pedais de efeitos, Lonberg-Holm transformava o violoncelo numa máquina electrificada diabólica. O violoncelo hendrixiano respondia aos saxofones incendiários de Vandermark com enorme imaginação, trabalhando diálogos perfeitos entre os dois instrumentos. No aquário da ZDB, Vandermark passou por várias palhetas: primeiro saxofone tenor, depois clarinete, também no saxofone barítono. A improvisação sem rede foi a estratégia utilizada pela dupla, que trabalhou intensamente meia dúzia de temas, onde se incluiu um justificado encore.

Na primeira parte actuou o italiano, residente em Lisboa há vários anos, Riccardo Dillon Wanke.
Apresentando o recente disco “Cuts”, vinil editado na Three:Four Records, Wanke apresentou um fio sonoro estático e constante, que subtilmente foi conquistando o público, de forma crescente.

Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
18/05/2015