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The Legendary Tiger Man
Sabotage Club, Lisboa
29-/04/2015


A noite era branda e o clima era festivo - dezenas de pessoas a conversar, a beber, a dar uso à câmara do telemóvel, a trocar histórias dos seus empregos, a esquecer momentaneamente que detinham esses empregos, a viver, enfim, a vida, entre a jarda rock n' roll que à sua frente se desenrolava e a possibilidade de ganhar uma garrafa de Jameson (ou assim pareceu). No Sabotage, Legendary Tigerman não foi, para uma quantidade considerável dos presentes, mais que uma house band a empatar espaço e a fazer barulho. O que, convenhamos, é um verdadeiro insulto para o Homem. Pois não é verdade que Paulo Furtado é a personificação made in Portugal desse rock bruto e selvagem?

© Sofia Teixeira

E mesmo que o próprio se tenha insurgido contra o parlapié na sua típica forma descontraída, com um toque chave de sarcasmo, não se deixou abalar por isso o Homem-Tigre, distribuindo uma série de bofetadas blues que começaram com a facada suave de "Hey, Sister Ray", desembocando depois numa verdadeira sessão de pancadaria entre três músicos possessos - Furtado, Paulo Segadães (bateria) e João Cabrita (saxofone) - e um público que talvez não esperasse encontrar tamanho hooliganismo. "Possessos", sim, que isto do blues é obra de Satanás e basta deixar o som entrar ouvido adentro por um segundo que seja para que as nossas almas estejam irremediavelmente condenadas ao fogo eterno.

© Sofia Teixeira

Não que tal incomode - as wild beasts, os grandes avatares do rock, não podem ser contidos seja no céu ou no inferno; o que significa que, caso nos enviem a todos para lá, o mais certo é que destituamos todo e cada demónio do seu posto e tomemos conta daquela merda. Já temos inclusive a banda-sonora, os hinos da nação rock: "I Got My Night Off", "Twenty Flight Rock", "These Boots Are Made For Walking" e, sobretudo, "Twenty First Century Rock N' Roll", momento em que Lisboa arde vermelha e o Sabotage vem abaixo, fazendo com que Tigerman se refugie em cima do balcão do bar para não ser engolido pelo abismo. E, perante uma audiência atordoada, termina com um encore suave por via de "Love Ride", desaparecendo depois no escuro da noite como um bombista envergonhado. É rock, caralho!

Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
30/04/2015