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Orion Rigel Dommisse
O Salão, Lisboa
11-/04/2015


Nós, os que ouvimos e escrevemos sobre música somos, afinal de contas, uns aventureiros. Quiçá uns piratas. Andamos sempre à procura de novos tesouros, novas ilhas por conquistar, locais onde possamos assentar arraiais nem que seja por um dia apenas. O último deles foi O Salão, situado na Rua de São Paulo, em Lisboa, uma oficina que mais parece um antiquário - ou vice-versa - onde Orion Rigel Dommisse foi apresentar as suas canções, embebidas numa folk desgarrada, num regime que mais parecia o de uma casa assombrada, seja pelos sons que iam saindo do teclado da moça, seja pelos curiosos que iam passando junto ao espaço.

© Rita Sousa Vieira

Alguns deles acabariam mesmo por entrar, escutando atentamente o que Orion tinha para lhes contar, seja a candura de um verso como we've been skipping school together, retirado de "Take Her Away", do mais recente Omicron (2014), seja o impacto doloroso de algo como I should not but I feel pity, primeira frase de uma canção do "seu" guitarrista Eddy Crampes (que aqui a acompanhou), e que só não levou às lágrimas porque seria de uma indelicadeza brutal chamar a atenção para as nossas faces quando ali estava ela, resplandecente, a iluminar vinte e poucas pessoas que não terão dali saído menos do que extasiadas.

© Rita Sousa Vieira

Nós, certamente, assim de lá saímos - até porque Orion Rigel Dommisse é um amor antigo, que vem do seu primeiro álbum, What I Want From You Is Sweet (2007), comprado às cegas numa FNAC no pós-fase metálica (dissémos-lhe isto: riu-se infantil e ternuramente. Tão fofinha, a moça). Durante quase uma hora, Orion apresentou algumas das melhores canções folk feitas no mundo desde que o género reexplodiu na ressaca dos freaks, e que abarcam três discos - os dois supracitados mais Chickens (2011). Não só isso, como ainda existiu tempo para "Heaven", dos Talking Heads, e para duas incursões pela belle langue française. Um encore a pedido foi o momento que faltava numa tarde mágica. Dos concertos que importam: os que fazem transbordar o espírito.

Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
14/04/2015