Dentro da Medina de Tanger, em Marrocos, mesmo ali ao lado do Petit Socco, fica o American Legation Museum, que, como o próprio nome indica, se dedica a comemorar a ligação histórica entre Marrocos e os Estados Unidos da América. Foi no seu fabuloso pátio interior que a norte-americana Josepine Foster, com a preciosa ajuda do seu ensemble, se propôs apresentar um espectáculo de rara beleza, fundindo a música com a performance, a dança contemporânea, entre outras linguagens.
O espaço foi-se enchendo gradualmente de curiosos das mais distintas nacionalidades. Num país onde o álcool não é ilegal mas sim imoral, o chá de menta serviu as funções de
welcome drink até à hora de início do concerto. A luz do dia era já pouca quando Josephine Foster ocupou o seu lugar numa das extremidades do pátio. Ao seu lado estava Gyða Valtýsdóttir (ex-múm) no violoncelo. E foi dessa forma que a banda-sonora dessa noite começou: com a voz frágil de Josephine Foster, uma guitarra (a sua) e o violoncelo dramático e belo da islandesa.
© Angela Costa
Num espectáculo intitulado
There Are Eyes Above, Josephine Foster contou ainda musicalmente com a colaboração habitual de Victor Herrero (na guitarra e guitarra portuguesa) e do grupo local Les Fils de Detroit. Contou ainda com Nissa Nishikawa (dança) e Mustapha El Houchine (recitações), entre outros participantes não creditados. Musicalmente falando, Josephine Foster foi fiel a si mesma no elogio da música folk. Quando os Les Fils de Detroit se juntaram, já perto do final, com violino, oud e percussão, a música intimista da norte-americana abriu-se para deixar entrar a música árabe. E o resultado não poderia ter sido mais fascinante.
O alinhamento passou por canções como "The Garden of Earthly Delights" ou "The sum of us all" mas o que ficou no ar naquela noite foi sobretudo a experiência colaborativa, a raridade do momento, os cheiros e os ventos de Tanger e toda a beleza que passou por aquele pátio durante cerca de uma hora. Verdadeiramente inesquecível. No dia seguinte, dois dos membros dos Les Fils de Detroit faziam chá de menta e tocavam para quem queria entrar na fabulosa e mística sala rectangular que habitam diariamente. O prolongamento da noite anterior não podia ter sido mais oportuno.