Deve haver alguma substância aditiva ou alguma fórmula matemática criada especificamente para nos viciar embutida na música de Marcelo Camelo e Mallu Magalhães, pois só assim se explica que, a meio da semana e com uma tímida promoção, os dois concertos da Banda do Mar, projecto que une o casal brasileiro ao “tuga” Fred Ferreira, tenham lotado por completo o Tivoli BBVA. Ou é isso, ou é amor: afinal de contas, a doçura de ambos os artistas, finamente fundida no homónimo disco de estreia do trio, é coisa para despertar paixões assolapadas nos corações de muito boa gente.
© Rita Sousa Vieira
Bem vistas as coisas, talvez tenha sido mesmo o amor, esse sentimento febril que nos leva a fazer coisas absurdas e inexplicáveis (como prescindir do calor do nosso lar numa fria noite de Janeiro para ver uns sujeitos tocar e cantar),que levou tanta gente ao mítico teatro lisboeta. E foi esse mesmo amor que foi pululando no ar e foi sendo distribuído, canção após canção, pelas letras e pelos acordes das canções que Mallu, Marcelo, Fred e restantes músicos de apoio foram tocando ao longo da noite.
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E tudo começou com “Cidade Nova” e “Me Sinto Ótima”, tocadas “costas com costas” e boas indicadoras daquilo que iria ser a primeira parte do espectáculo: um frenesim com muita uva e quase nenhuma parra, com as canções a serem tocadas quase
ipsis verbis daquilo que ouvimos no álbum e, à semelhança do que temos em
Banda do Mar, com o “papel principal” a ser trocado, que nem bola de pingue pongue, entre Marcelo e Mallu. E com este início deu também para notar alguns problemas no som, com a voz da cantora a soar afogada na mistura e com a acústica da sala a penalizar as canções mais “despidas”.
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Seguiram-se “Hey Nana”, “Mais Ninguém” e “Pode Ser”, todas tocadas de rajada, sem nos dar tempo sequer para recuperar o fôlego perdido com a presença de palco de Mallu, rainha dos nossos corações e dona duma candura digna de uma princesa Disney. Candura essa que só se acentuou quando, após a belíssima interpretação de "Faz Tempo" (e dizemos "belíssima" pela palpável química entre o casal), a brasileira ficou sozinha em palco para interpretar "Velha e Louca", um dos seus êxitos a solo.
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Aberto o "baú" das carreiras individuais, estava iniciada a caça sem freio aos nossos corações, e seria hipócrita da nossa parte dizer que não estávamos expectantes para que isto acontecesse; afinal de contas, tanto Mallu como Marcello já andam a dever ao público nacional uns quantos concertos para saciar a nossa sede. Daí que não seja surpresa que "Vermelho" (de Marcelo), "Sambinha Bom” (de Mallu) e "Além do que Se Vê" (dos saudosos Los Hermanos) tenham estado entre as canções mais bem recebidas.
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Depois do regresso a
Banda do Mar, com "Solar" e "Seja Como For", e das lágrimas vertidas no dilacerante par de "Doce Solidão" e "Janta", ambas de Marcelo Camelo, o alinhamento foi rematado de uma forma belíssima por "Dia Clarear", cantada em uníssono por um Tivoli completamente rendido. Mas ainda faltava o tradicional
encore, e depois de uma breve (mas fervorosa) ovação, o grupo decidiu regressar ao palco para interpretar “Cena”, de Mallu, “Morena”, de Los Hermanos, e “Muitos Chocolates”, naquilo que parecia ser um fim mais que digno para o concerto.
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Contudo, depois de nova e prolongada ovação em pé, o trio retornou ao palco, causando uma explosão de euforia na plateia. Para o segundo
encore ficou reservada “Vamos Embora”, canção que encerra o registo da banda e que, tanto pelo (apropriado) título como pelo tom meigo, fechou de forma perfeita aquelas duas horas de doçura. E à saída, ao enfrentar o frio da noite lisboeta, estavam dissipadas as dúvidas: só pode ter sido mesmo o amor a puxar-nos para esta Banda do Mar.